Menu

Folha de S.Paulo

Cia. Balagan aborda a clausura do poder em novo espetáculo

6.12.2006  |  por Valmir Santos

São Paulo, quarta-feira, 06 de dezembro de 2006

TEATRO 
Além de ensaios de “Západ”, projeto realiza encontros públicos com artistas 

VALMIR SANTOS
Da Reportagem Local 

No teatro paulistano de agora, a etapa de ensaio já não constitui território indevassável. Com freqüência, o espectador compartilha o processo de criação de grupos que fazem da atividade profissional um campo recíproco de conhecimento. 

O novo trabalho da Companhia de Teatro Balagan, “Západ – A Tragédia do Poder”, é exemplo disso. Com encenação de Maria Thaís, o grupo faz oito ensaios abertos gratuitos a partir de amanhã, no Tusp -onde estréia em 11 de janeiro. 

Desde a semana passada, quando a Balagan (dez anos em 2007) abriu residência no local, o público acompanha uma série de encontros com pensadores e artistas, como o encenador e pedagogo russo Jurij Alschitz. “É um projeto que divide com o espectador comum e com artistas que participam de workshop aquilo que nos formou”, diz Thaís, 46. 

Palavra de origem russa, “západ” significa “ocidente”. Thaís viveu por cerca de cinco anos em Moscou, onde integrou a equipe do encenador e pedagogo Anatoli Vassiliev. “Západ” diz respeito à clausura humana gerada pelo poder, daí o vínculo com as montagens de “Sacromaquia” (2000) e “Tauromaquia” (2004), que tratavam da condição de isolamento nos universos feminino e masculino. A esses espelhos invertidos, soma-se uma terceira via que independe de gênero. 

O mote são as correspondências trocadas no século 16 entre o czar russo Ivan, o Terrível, e a rainha inglesa Elizabeth 1ª. Recorrendo não às cartas em si, mas ao imaginário arquetípico e alegórico, os dramaturgos Alessandro Toller (inspirado na imagem da juventude sem potência), Newton Moreno (a vida adulta como representação) e Luís Alberto Abreu (a maturidade como reflexão) escreveram três histórias ou movimentos distintos. Os sete atores e demais criadores da Balagan constroem uma reflexão atemporal dos interstícios do poder público, num espaço público e com verba pública (Lei de Fomento). 

Um espetáculo que se quer meio, não fim em si mesmo. 

Programação paralela
O grupo também organiza encontros temáticos, sempre às 18h, na sala 100 do Centro Cultural Maria Antonia, mesmo endereço do Tusp. Participam os professores da USP Gilberto Safra (“A Memória do Humano: A Contribuição de Alguns Pensadores Russos”, hoje); Wanderley Messias da Costa (“Território e Poder”, amanhã); Sérgio Cardoso (“Sobre a Servidão Voluntária”, sexta) e o escritor e tradutor Paulo Bezerra (“A Experiência Russa”, dia 15). 

Jornalista e crítico fundador do site Teatrojornal – Leituras de Cena, que edita desde 2010. Escreveu em publicações como Folha de S.Paulo, Valor Econômico, Bravo! e O Diário, de Mogi das Cruzes, na Grande São Paulo. Autor de livros ou capítulos afeitos ao campo, além de colaborador em curadorias ou consultorias para mostras, festivais ou enciclopédias. Cursa doutorado em artes cênicas pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, onde fez mestrado na mesma área.

Relacionados