Folha de S.Paulo
11.1.2007 | por Teatrojornal
São Paulo, quinta-feira, 11 de janeiro de 2007
TEATRO
Dirigida por Maria Thaís, Teatro Balagan cria polifonia sobre juventude, vida adulta e maturidade de rainha e czar
VALMIR SANTOS
Da Reportagem Local
Existem peculiaridades nos modos de produção e criação de “Západ – A Tragédia do Poder”, que a Cia. Teatro Balagan estréia hoje no Tusp em sua variação sobre a clausura humana. A começar pelas escritas de texto e cena com as quais o espectador é estimulado a dialogar em seu imaginário.
“Západ”, em russo, quer dizer Ocidente, a parte do hemisfério terrestre onde o sol se põe, em correlação ao Oriente, onde nasce. Correlação rara na natureza humana ou na geopolítica. Em 2006, a primeira fase do projeto foi pedagógica. O ponto de partida: cartas que dois soberanos trocaram no século 16, a rainha inglesa Elizabeth 1ª e o czar russo Ivan, o Terrível.
Os criadores, entre eles Márcio Medina (cenografia e figurinos), Lúcia Chedieck (desenho de luz), Daniel Maia (direção musical) e Maria Thaís (direção) não leram efetivamente as cartas nem brandiram as biografias desses monarcas. O interesse se deu pelo subtexto histórico, a lida de universos culturais distintos, Europa Oriental e Europa Ocidental, e a gênese do Estado moderno, fronteiras e soberanias.
Para transformar tal universo em teatro, foram escalados um Anjo e um Bufão. Eles são sombras e sóis de Ivan e Elizabeth. E a Cia. Balagan instigou três autores a visitar a juventude, a vida adulta e a maturidade desses protagonistas sujeitos a outros tempos e territórios.
A dramaturgia de “A Tragédia do Poder” é exemplo do discurso polifônico em todos os campos de sua criação. São três movimentos autônomos e umbilicais, ora vistos em sessões diferentes, ora em única noite.
Alessandro Toller escreveu sobre a juventude de Ivan e Elizabeth em “De Neve e Neblina”. As potências de amor e de poder compõem um ambicioso projeto juvenil de ambos.
Newton Moreno transforma os soberanos em bestas-feras e estrelas de um circo de horrores em que duelam pela supremacia do trono de sangue em “A Peleja de Ivan, o Temível, Czar da Rússia & Elizabeth 1ª, Isabel, para os Íntimos, Monarca Virgem da Inglaterra”.
Luís Alberto de Abreu arremata a maturidade em “Dies Irae”, em que o Anjo dá a ambos a consciência de suas ações por meio de um dossiê de fotos, livros, filmes etc. Dias de ira.
Maria Thaís diz que não quer um drama histórico e mira o nosso contemporâneo, em que “Deus, anjos e homens querem crer um nos outros, e disso se escreve nossa redenção ou nossa tragédia”, como pondera o Anjo, caído, de Abreu.