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Folha de S.Paulo

Ciclo gratuito debate teatro da América Latina

9.1.2007  |  por Valmir Santos

São Paulo, terça-feira, 09 de janeiro de 2007

TEATRO 
Grupo Teatro Kaus organiza encontro internacional de amanhã a domingo, em parceria com Instituto Cervantes

Artistas da Argentina, do Chile e da Venezuela partilham suas experiências com brasileiros em debates, oficinas e ensaios abertos

VALMIR SANTOS 
Da Reportagem Local 

Ainda está aquém do corredor privilegiado que é Porto Alegre, dada a aproximação geográfica, mas São Paulo demonstra, pelo menos no âmbito dos artistas, vontade de melhorar a relação cultural com os países latino-americanos.

O teatro dá mais um passo com a o ciclo “O Teatro na América Latina – Encontros e Desencontros”, uma iniciativa do Teatro Kaus Cia. Experimental. Em parceria com o Instituto Cervantes, o grupo realiza de amanhã a domingo debates, espetáculos e oficina gratuitos com artistas convidados da Argentina, do Chile e da Venezuela, que partilham suas experiências com brasileiros.

Em maio do ano passado, a cidade viu a Cooperativa Paulista de Teatro organizar a 1ª Mostra Latino-Americana de Teatro de Grupo, com cinco países. Em 2005, o Folias d’Arte, um dos grupos empenhados numa vizinhança mais ativa, criou o espetáculo “El Día que me Quieras”, do venezuelano José Ignacio Cabrujas. Em 2004, o Teatro-Escola Célia Helena publicou quatro peças inéditas no volume “Teatro da América Latina”.

“Os países da América Latina sempre tiveram a percepção de que a cultura com maiúscula estava do outro lado do mar”, diz o dramaturgo argentino Santiago Serrano, que dá oficina e participa de debates. Tal paradoxo, acredita, estaria mudando porque melhorou a auto-estima.

“O mútuo desconhecimento entre as Américas espanhola e portuguesa parece residir na falta de uma verdadeira vontade de integração de parte das elites governantes desde o século 19”, afirma outro participante do ciclo, o diretor e tradutor peruano Hugo Villavicenzio, radicado no Brasil desde 1975.

“Reconhecer as nossas diferenças é fundamental. O teatro latino-americano tem muitos aspectos comuns, sua preocupação com a história recente, seu envolvimento social e político, seu vigor criativo, seu experimentalismo etc. Tudo isso tem que ser conhecido pelas novas gerações”, diz.

Para Serrano, projetos como o que acontece esta semana servem, “não para borrar as diferenças e globalizar a cultura, mas sim para descobrir nossa própria identidade em relação a outros povos vizinhos”.

O ciclo faz parte de projeto mais amplo do Teatro Kaus, batizado “Fronteiras – O Teatro na América Latina”, selecionado no Programa de Fomento. Estão previstas a abertura da sede do grupo, na rua Augusta; a montagem de duas peças em fevereiro, “A Revolta”, de Serrano, e “El Chingo”, do venezuelano Edílio Peña; e o lançamento de um caderno com o registro de todos os processos.

Para o diretor do Teatro Kaus, Reginaldo Nascimento, trata-se de um pequeno traço do vasto universo teatral dos vizinhos latinos. “A intenção é socializar as informações de nossas pesquisas e divulgar o teatro desses países.” 
 

Jornalista e crítico fundador do site Teatrojornal – Leituras de Cena, que edita desde 2010. Escreveu em publicações como Folha de S.Paulo, Valor Econômico, Bravo! e O Diário, de Mogi das Cruzes, na Grande São Paulo. Autor de livros ou capítulos afeitos ao campo, além de colaborador em curadorias ou consultorias para mostras, festivais ou enciclopédias. Cursa doutorado em artes cênicas pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, onde fez mestrado na mesma área.

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