Folha de S.Paulo
24.3.2007 | por Valmir Santos
São Paulo, sábado, 24 de março de 2007
TEATRO
Festival recebe peças do americano Will Eno e do australiano Andrew Bovell que refletem experimentos de linguagem
“Thom Pain – Lady Gray” tem direção de Felipe Hirsch, e “Línguas Estranhas”, de Bruce Gomlevsky e Daniela Pereira de Carvalho
VALMIR SANTOS
Da Reportagem Local
Risco, sobretudo em dramaturgia, nunca foi propriamente uma vocação da mostra oficial. Mas a programação do 16º Festival de Curitiba dá margem.
Entre as 11 peças, dois autores estrangeiros refletem experimentos de linguagem que vão pelo drama contemporâneo: “Thom Pain – Lady Gray”, do norte-americano Will Eno, e “Línguas Estranhas”, do australiano Andrew Bovell.
O primeiro, de 41 anos, é conhecido do público paulista por “Temporada de Gripe” (2003), primeiro texto dele montado no Brasil, por Felipe Hirsch, da Sutil Companhia de Teatro.
Hirsch, 41, volta à carga com “Thom Pain – Lady Gray” -última sessão hoje, às 20h30, no Teatro da Reitoria. Com fundo autobiográfico, Eno concebe dois monólogos estanques. No primeiro, um homem discorre sobre paixões e perdas. No segundo, vem à tona a versão da mulher em busca de sentido para algo que a represente após o abandono. Não deixa de ser a desconstrução de uma história de amor ou, por outra, da criação artística. “É outro espetáculo radical, extremamente pensado, sem concessões ao próprio espetáculo, assim como era em a “Temporada de Gripe”. Ele pode ser muito emocionante também, se você quiser”, diz Hirsch.
O sofrimento de Thom Pain chega por meio de Guilherme Weber, co-fundador da Sutil.
Lady Gray (um chá feminino), por Fernanda Farah, atriz radicada em Berlim. Do Rio, Bruce Gomlevsky (do solo “Renato Russo”) co-dirige “Línguas Estranhas” com Daniela Pereira de Carvalho -última sessão hoje, às 20h30, no Paiol. São três atos de relações desencontradas. Personagens migram de uma história para outra, invertendo expectativas de tempo e espaço.
Roteirista do filme “Vem Dançar Comigo”, Bovell, 44, diz a que veio logo na abertura, em adaptação de José Almino.
Duas cenas simultâneas, dois casais que traem entre si sem que saibam. Os diálogos de insegurança e atração acontecem em sincronia, soando a “música” e os “ruídos” desses homens e mulheres. Os dois atos seguintes caminham para o thriller psicológico, com pessoas desaparecidas, suspeitos. “O texto exige um exercício formal dos quatro atores [Julia Carrera, Otto Júnior, Teresa Fournier e Lucas Gouvea]. Ao todo, eles interpretam nove personagens, às vezes com registros opostos de um ato para outro”, diz Gomlevsky, 32. A montagem estreou em setembro passado.
Outro autor internacional de peso na mostra é o norte-americano Sam Shepard, de quem o gaúcho Ramiro Silveira dirige “Mamãe Foi pro Alaska – True West”, com sessões nos dias 27 e 28, no Sesc da Esquina.
Jornalista e crítico fundador do site Teatrojornal – Leituras de Cena, que edita desde 2010. Escreveu em publicações como Folha de S.Paulo, Valor Econômico, Bravo! e O Diário, de Mogi das Cruzes, na Grande São Paulo. Autor de livros ou capítulos afeitos ao campo, além de colaborador em curadorias ou consultorias para mostras, festivais ou enciclopédias. Cursa doutorado em artes cênicas pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, onde fez mestrado na mesma área.