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Folha de S.Paulo

Comédia expõe luta “desumana” por vaga

11.4.2007  |  por Valmir Santos

São Paulo, quarta-feira, 11 de abril de 2007

TEATRO 
Candidatos usam vale-tudo para obter emprego em “O Método Grönholm”

Luiz Antonio Pilar assina direção da peça de Jordi Galcerán, que estréia amanhã em SP com Lázaro Ramos e Taís Araujo 

VALMIR SANTOS
Da Reportagem Local 

Um dos diretores do “reality show” “BBB 7”, exibido pela Globo até a semana passada, Luiz Antonio Pilar é, possivelmente, o nome mais indicado para encenar a primeira montagem brasileira da comédia espanhola “O Método Grönholm” (2003). 

A peça do catalão Jordi Galcerán (nascido em 1964), adaptada há pouco para o cinema (“O que Você Faria?”, do argentino Marcelo Piñeyro), encerra numa sala quatro candidatos a uma vaga de executivo numa multinacional. 

Eles chegam à última fase da seleção submetidos a provas de exclusão, “recursos desumanos” para saber se há algum infiltrado do departamento pessoal no pedaço. “O Método Grönholm”, que estréia hoje no Teatro das Artes, em São Paulo, é feito de enigmas assim. O título vem do sobrenome do sujeito que cria técnicas mirabolantes (e reais) de avaliação, como se saberá no apagar de luzes da peça adaptada por Domingos Oliveira. 

“Os candidatos são obrigados a desempenhar um papel para chegar ao objetivo, observados por olhares exteriores que irão julgar qual deles tem capacidade de exercer o cargo”, diz o diretor da versão brasileira. 

Analogia. “Como no “Big Brother”, ocorre uma alteração do chamado comportamento “in natura” da pessoa. Isso faz com que, em determinado momento, ela interprete um papel que julgue de acordo com aquilo que imagina esperarem dela”, completa. 

É emblemática a passagem em que os concorrentes são induzidos a escolher chapéus de palhaço, toureiro, bispo e político. Diante da hipótese de serem os únicos ocupantes de um avião em chamas, precisam argumentar por que seu personagem deve salvar-se com o único pára-quedas disponível. 

O contexto é de uma corporação, mas o comportamento politicamente incorreto dos personagens vividos na trama por Lázaro Ramos, Taís Araujo, Ângelo Paes Leme e Edmilson Barros está disseminado pela sociedade midiática, no diagnóstico de Pilar. 

Acento brasileiro
Artista ligado ao teatro há 22 anos, co-fundador, no Rio, da companhia e produtora Black & Preto, em 1997, Pilar, 46, sabe que existem outras questões subliminares em jogo na versão brasileira. Afinal, a única mulher do quarteto (rebatedora de piadas sexistas) e o homem mais arrogante e elegantemente vestido são negros. 

Protagonistas da telenovela “Cobras e Lagartos”, Ramos e Araujo promovem encontro inédito no palco. Há dois anos e meio, o casal assistiu à montagem argentina da peça. Vidrou na intriga e nas falas ardilosas. 

Procurou o autor e soube da aquisição dos direitos do texto pela CIE Brasil. Bateu à porta da produtora, que deu carta branca para a versão que chega amanhã aos palcos. 

Lázaro Ramos, 28, vê a chance de variar o registro cômico das últimas interpretações no cinema e na TV e busca revolver as possibilidades dramáticas que cultivou em nove anos de Bando de Teatro Olodum, em Salvador. 



O Método Gronholm 
Quando:
estréia amanhã, às 21h; qui. a sáb., às 21h; dom., às 19h 
Onde: Teatro das Artes (shopping Eldorado – av. Rebouças, 3.970, 3º piso, tel. 6846-6000) 
Quanto: R$ 60 a R$ 80 (qui. e sex.) e R$ 70 a R$ 90 (sáb. e dom.) 

Jornalista e crítico fundador do site Teatrojornal – Leituras de Cena, que edita desde 2010. Escreveu em publicações como Folha de S.Paulo, Valor Econômico, Bravo! e O Diário, de Mogi das Cruzes, na Grande São Paulo. Autor de livros ou capítulos afeitos ao campo, além de colaborador em curadorias ou consultorias para mostras, festivais ou enciclopédias. Cursa doutorado em artes cênicas pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, onde fez mestrado na mesma área.

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