Folha de S.Paulo
7.4.2007 | por Valmir Santos
São Paulo, sábado, 07 de abril de 2007
TEATRO
O drama “A Refeição” e a comédia “Eu Odeio Kombi” participaram do Festival de Teatro de Curitiba
VALMIR SANTOS
Da Reportagem Local
Com passagens pelo 16º Festival de Teatro de Curitiba, na semana passada, dois espetáculos iniciam temporada em São Paulo. O drama “A Refeição”, de Newton Moreno, é dirigido por Denise Weinberg e estréia hoje no Sesc Santana, na zona norte. A comédia “Eu Odeio Kombi”, de Hugo Possolo, dirigida por Jairo Mattos, ocupa desde ontem o Arthur Azevedo, na Mooca, zona leste.
Moreno é dramaturgo dos mais produtivos depois do premiado “Agreste” (2004). Recentemente, esteve entre os criadores de “Západ”, projeto da Cia. Balagan e de experimentos com o Grupo XIX de Teatro, além de escrever para a sua própria cia.
Agora, explora variações do canibalismo em “Vemvai – O Caminho dos Mortos”, que estreou na semana passada na Unidade Provisória Sesc Avenida Paulista -montagem unha e carne com “A Refeição”.
O título é direto no que lhe toca: a antropofagia. Esta é consumada de forma literal em três histórias. A primeira é breve, um homem e uma mulher às voltas com seus desejos. Sozinhos na sala de um hospital, fincam seus dentes um no outro, num surpreendente pacto de intimidade.
Na segunda história, o estranhamento se dá pela atração de um executivo (Descartes) por um mendigo (Plínio Soares). Resulta num monólogo sobre o poder de classes em jogo, cinismo e sedução na selva da cidade, de acordo com o autor.
A terceira das histórias de “devoração” reúne os mesmos intérpretes, Descartes e Soares, respectivamente o último índio de uma tribo e um antropólogo.
No leito de morte, o índio firma acordo para ser “canibalizado” pelo interlocutor, o que concebe como um movimento de volta às raízes.
Aos 15 anos, a Cia. Cênica Farândola Troupe vai ao palco italiano (platéia frontal) depois de muito se apresentar em praças, picadeiros e até piscina. Os atores Armando Junior e Neto de Oliveira convidam Hugo Possolo (dramaturgia) e Jairo Mattos (direção) para sua nova produção, artistas cúmplices na trajetória da Farândola.
A peça de Possolo fala de dois amigos que compartilham crises pessoais, fracassos e esperanças. O embate existencial é deflagrado quando a Kombi (ou a carcaça dela) em que trabalham pifa, ou melhor, explode. Eles se vêem num lugar deserto, sem ter a quem apelar.
Jornalista e crítico fundador do site Teatrojornal – Leituras de Cena, que edita desde 2010. Escreveu em publicações como Folha de S.Paulo, Valor Econômico, Bravo! e O Diário, de Mogi das Cruzes, na Grande São Paulo. Autor de livros ou capítulos afeitos ao campo, além de colaborador em curadorias ou consultorias para mostras, festivais ou enciclopédias. Cursa doutorado em artes cênicas pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, onde fez mestrado na mesma área.