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Folha de S.Paulo

Enfim, Théâtre du Soleil vem ao país

27.8.2007  |  por Valmir Santos

São Paulo, segunda-feira, 27 de agosto de 2007

TEATRO 

Criado há 43 anos, o destacado grupo francês dirigido por Ariane Mnouchkine traz seu novo espetáculo ao Brasil
 

A cia. mostra em São Paulo e Porto Alegre a obra “Les Éphémères” (os efêmeros), na qual os atores surgem em plataformas móveis
 

VALMIR SANTOS
Especial enviado a Avignon (França)

A década atual vai permitindo ao Brasil encurtar distância em relação à obra de alguns encenadores fundamentais da Europa -afinal, é o continente provedor da formação moderna do teatro no país, a partir dos anos 40. Depois dos espetáculos e da presença do inglês Peter Brook e equipe, é vez da francesa Ariane Mnouchkine e o grupo Théâtre du Soleil.

Em 43 anos de atividade, é a primeira vez que o Soleil se apresenta por aqui. Tentava-se trazer o grupo ao país há mais de 20 anos. Mas sempre se esbarrava na falta de dinheiro.

O Théâtre du Soleil encontrará platéias brasileiras e argentinas que sabem mais da máquina de entretenimento do canadense Cirque du Soleil do que sobre as experiências estéticas e o pensamento humanista de Mnouchkine.

Em entrevista à Folha durante o Festival de Avignon, na França, em julho, Mnouchkine, 68, minimiza esse tipo de comparação ou confusão com a trupe de circo. “Isso não se dá só no Brasil, mas em muitos países que visitamos.”

Buenos Aires (4 a 15/9), Porto Alegre (27 a 30/9) e São Paulo (12 a 23/10) receberão a obra mais recente, “Les Éphémères” (os efêmeros), de 2006.

Ao contrário de peças anteriores, que valorizam plasticidade da cena e conteúdo épico para lidar com a realidade (caso da saga de refugiados em “Le Dernier Caravanserail”; 2003), “Les Éphémères” recua no impacto espetacular e se fixa nas emoções particulares que movimentam a roda da história.

O espaço cênico é uma pista ladeada por arquibancadas erguidas uma de frente à outra. Sucedem quadros que vão e vêm no tempo e no espaço das narrativas, momentos de perdas e afetividades vividas por pessoas comuns, anônimos despidos de grandes gestos heróicos (a criação nasce do depoimento pessoal e improvisação do elenco).

Na pista de platéia bifrontal, os atores surgem em pequenas plataformas móveis, circulares ou retangulares. Elas são nichos cenográficos (quarto, sala, jardim, escritório etc.) que giram através das mãos dos próprios atores contra-regras. Mnouchkine evoca a imagem de um planetário, força de gravitação entre pessoas e sentimentos comuns.

O espetáculo legendado poderá ser visto em duas partes, uma por dia, ou em sessões integrais que duram em média oito horas e meia.

Todas incluem o ambiente de um restaurante rústico, um bar. Nele, antes do início e nos intervalos, o público pode comprar e comer pratos com carne e legumes elaborados por alguns dos próprios artistas.

O espírito agregador da comida faz parte da identidade do Soleil. É assim na sede, a Cartoucherie, em Paris. Nas viagens, o grupo procura partilhar essa cultura de teatro. A montagem envolve 61 pessoas, entre atores, técnicos e crianças. 

 

Jornalista e crítico fundador do site Teatrojornal – Leituras de Cena, que edita desde 2010. Escreveu em publicações como Folha de S.Paulo, Valor Econômico, Bravo! e O Diário, de Mogi das Cruzes, na Grande São Paulo. Autor de livros ou capítulos afeitos ao campo, além de colaborador em curadorias ou consultorias para mostras, festivais ou enciclopédias. Cursa doutorado em artes cênicas pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, onde fez mestrado na mesma área.

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