Folha de S.Paulo
13.10.2007 | por Valmir Santos
São Paulo, sábado, 13 de outubro de 2007
TEATRO
“Fala Baixo, Senão Eu Grito”, encenada em 1969, reestréia em SP “atualizada”
VALMIR SANTOS
Da Reportagem local
Marília Pêra, Myriam Muniz, Suely Franco e outras atrizes já foram Mariazinha um dia, a funcionária pública “solteirona” e sexualmente reprimida de “Fala Baixo, Senão Eu Grito”. Quase 40 anos depois de seu nascimento, em 1969, a personagem da autora paulista Leilah Assumpção reinventa fantasmas para os tempos que correm, agora na pele de Ana Beatriz Nogueira.
A atriz co-produz a montagem do Rio que estréia hoje no teatro Sérgio Cardoso. Mariazinha contracena com Eriberto Leão, o Homem, ou melhor, o ladrão que invade o quarto da protagonista e bagunça a realidade de quem se pensava “segura” na retidão do trabalho e da moral classe média.
A figura masculina incita a mulher à emancipação. É um marginal que aprendeu na escola da vida da qual Mariazinha fugiu. Para romper o invólucro frágil do mundo que ela cria para si, o diretor convidado Paulo de Moraes (da Armazém Cia. de Teatro) apoia-se num dos símbolos do isolamento urbano: a TV. Há 20 aparelhos no cenário de Carla Berri.
“Ele [Moraes] diz que foca o trabalho na solidão da mulher que vive na cidade grande, mas vai mais à frente: toca profundamente à solidão da alma humana”, diz Assumpção, 64, que conferiu a temporada carioca. A autora aponta pontos de contato entre as duas montagens. “Não é uma obra datada. A Mariazinha é menos engraçada, menos alienada em 2007, mas tão solitária quanto antes.
É desesperador”, diz.
Assumpção, a mesma de “Intimidade Indecente”, faz parte da geração de autores que surgiu no final dos anos 60, de Consuelo de Castro, Antônio Bivar, José Vicente (1945-2007) e outros. Atualmente, escreve “Ilustríssimo Filho da Mãe”, sobre um executivo de 40 anos em crise.
Jornalista e crítico fundador do site Teatrojornal – Leituras de Cena, que edita desde 2010. Escreveu em publicações como Folha de S.Paulo, Valor Econômico, Bravo! e O Diário, de Mogi das Cruzes, na Grande São Paulo. Autor de livros ou capítulos afeitos ao campo, além de colaborador em curadorias ou consultorias para mostras, festivais ou enciclopédias. Cursa doutorado em artes cênicas pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, onde fez mestrado na mesma área.