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Folha de S.Paulo

Peça na pça. Roosevelt aborda exclusão social

9.2.2008  |  por Valmir Santos

São Paulo, sábado, 09 de fevereiro de 2008

TEATRO 

Jornalista e morador de rua se confrontam em espetáculo da Confraria da Criação
 

“Línguas Discordantes” tem texto de Wolff Rothstein e direção de Otávio Costa Filho, que vivem personagens que se encontram pela palavra

VALMIR SANTOS
Da Reportagem Local 

Para quem vive na rua, o papelão vira cobertor ou colchão, a depender dos ventos urbanos. É seu “pedaço”. Mas há quem o invada, pise e nem se dê conta. 
Foi uma cena assim que o ator Wolff Rothstein viu anos atrás, na região do Minhocão, centro paulistano. Ponto de partida para escrever “Línguas Discordantes”, que estréia hoje na praça Franklin Roosevelt. 
A peça que ele “experimenta” desde 2006 abriu um projeto de dramaturgia com a cia. Confraria da Criação sobre o tema da exclusão. Na seqüência, virão textos que visitam travestis e garotos de programas. 
“Línguas…” aproxima ao acaso um morador de rua e um jornalista. Mário (Rothstein) se põe à margem não por causa da sua situação, mas por meio da escrita e da leitura. Quem tromba com ele na calçada, num passo descuidado, é Alberto (Otávio Costa Filho, que também assina a direção), frustrado com uma reportagem que o chefe na redação derrubou. 
“O centro desses dois universos é a palavra”, diz Rothstein, 43. Entre identificações e diferenças, o diálogo transforma os personagens. E o público, esperam os artistas, carrega a reflexão do “poderia ser comigo”. Após apresentações pontuais, como na rua do Sesc Pompéia ou num refeitório para moradores de rua na Bela Vista, os atores concluíram que o espetáculo ganha mais sentido em espaço público. Por isso a primeira temporada acontece na praça Roosevelt, do outro lado da calçada em frente ao Espaço dos Satyros Um, onde existe uma espécie de arena. 
Rothstein diz que a peça de tintas realistas não se apropria dos recursos usuais do teatro de rua, caracterizado pela busca de linguagem mais direta com o espectador. “O texto é bem teatral, valoriza o tempo da palavra, os diálogos.” 
A Confraria da Criação, em que Rothstein está há dois anos, estreou em 2000, com “Deus e os Outros Eus”, de Tereza Monteiro, com direção de Inês Aranha de Carvalho.



Peça:Línguas discordantes 
Onde: pça. Franklin Roosevelt (em frente ao Espaço dos Satyros Um, tel. 3258-6345) 
Quando: sáb., às 19h; até 29/3 
Quanto: grátis (se chover até meia hora antes, não haverá apresentação)
 

Jornalista e crítico fundador do site Teatrojornal – Leituras de Cena, que edita desde 2010. Escreveu em publicações como Folha de S.Paulo, Valor Econômico, Bravo! e O Diário, de Mogi das Cruzes, na Grande São Paulo. Autor de livros ou capítulos afeitos ao campo, além de colaborador em curadorias ou consultorias para mostras, festivais ou enciclopédias. Cursa doutorado em artes cênicas pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, onde fez mestrado na mesma área.

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