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Folha de S.Paulo

Espetáculos nascem na reta final de Curitiba

31.3.2008  |  por Valmir Santos

São Paulo, segunda-feira, 31 de março de 2008

TEATRO 
Festival termina com pré-estréias e ensaio aberto 

VALMIR SANTOS
Enviado especial a Curitiba 

O último final de semana do 17º Festival de Curitiba teve duas pré-estréias nacionais e uma demonstração de trabalho em construção na grade oficial. São espetáculos que entram em cartaz neste semestre no Rio: “A Ordem do Mundo”, monólogo com Drica Moraes, e “Cruel”, balé da Cia. Deborah Colker, estréiam em abril; o embrionário “Deserto”, com Luis Melo e a Cia. Brasileira de Teatro (PR), em junho.
Além disso, em seus dez anos, a mostra Fringe (franja, em inglês) desbancou de vez a designação alternativa e anacrônica “Mostra de Teatro Contemporâneo” que o Festival de Curitiba adotou no início (1992). Nem tudo o que se vê na oficial (amparada por curadoria, com cachê) supera em qualidade a mostra paralela (produções que pagam de R$ 30 a R$ 50 e são auto-sustentadas).
Um exemplo disso foi a constrangedora e pretensa comédia “Nada Que Eu Disser Será Suficiente Até Que o Sol Se Ponha”, da Cia. de Teatro de Nós (RJ), frágil em tudo, escalada pela organização no Sesc da Esquina.
Sua antítese, para ficar nos mesmos palco e gênero, foi “Três Mulheres e Aparecida”, uma esmerada atuação solo de Rita Assemany, de Salvador, com textos de Aninha Franco e direção de Nadja Turenko. Nomes que o Brasil deveria conhecer mais.
Parto
“Foi um lugar lindo para “A Ordem do Mundo” nascer”, afirmou Drica Moraes após se apresentar no teatro da Reitoria. Ela definiu as noites de sexta e sábado como “o parto da personagem”, uma mulher obcecada por reter a “epidemia da informação”. O texto é de Patrícia Melo e a direção, de Aderbal Freire-Filho.
Segundo Deborah Colker, “Cruel” recorre ao adjetivo-título para lançar “um olhar sobre o amor, a vida, a beleza, a traição, a rejeição etc”. A série de movimentos, que seria mostrada ontem, inclui um grande baile no prólogo. Objetos como mesa e espelho imprimem tons surrealistas. “Não há nada mais cruel na vida do que olhar-se no espelho”, disse ela.
Pesquisas dramatúrgicas e experimentos de linguagem cênica não estiveram restritos ao Fringe; também ganharam espaço na mostra oficial. Ainda inacabado, “Deserto” foi exibido no casarão Novelas Curitibanas na sexta. A partir da temática da fragilidade e com um enredo apenas esboçado, a Cia. Brasileira de Teatro apresentou exercícios de improvisação.
Utilizando uma língua imaginária, Melo tentou, às vistas da platéia, traçar caminhos para seu personagem -um homem que busca no sonho e no devaneio meios para escapar da realidade e dar sentido à vida.
“As pessoas têm uma curiosidade sobre a criação teatral, sobre como se chega à obra final. Queremos diminuir essa distância que separa o público da platéia. Revelar o que há de inacabado e imperfeito, quais são os nossos dilemas”, disse o ator.

O último final de semana do 17º Festival de Curitiba teve duas pré-estréias nacionais e uma demonstração de trabalho em construção na grade oficial. São espetáculos que entram em cartaz neste semestre no Rio: “A Ordem do Mundo”, monólogo com Drica Moraes, e “Cruel”, balé da Cia. Deborah Colker, estréiam em abril; o embrionário “Deserto”, com Luis Melo e a Cia. Brasileira de Teatro (PR), em junho.

Além disso, em seus dez anos, a mostra Fringe (franja, em inglês) desbancou de vez a designação alternativa e anacrônica “Mostra de Teatro Contemporâneo” que o Festival de Curitiba adotou no início (1992). Nem tudo o que se vê na oficial (amparada por curadoria, com cachê) supera em qualidade a mostra paralela (produções que pagam de R$ 30 a R$ 50 e são auto-sustentadas).

Um exemplo disso foi a constrangedora e pretensa comédia “Nada Que Eu Disser Será Suficiente Até Que o Sol Se Ponha”, da Cia. de Teatro de Nós (RJ), frágil em tudo, escalada pela organização no Sesc da Esquina.

Sua antítese, para ficar nos mesmos palco e gênero, foi “Três Mulheres e Aparecida”, uma esmerada atuação solo de Rita Assemany, de Salvador, com textos de Aninha Franco e direção de Nadja Turenko. Nomes que o Brasil deveria conhecer mais.

Parto
“Foi um lugar lindo para “A Ordem do Mundo” nascer”, afirmou Drica Moraes após se apresentar no teatro da Reitoria. Ela definiu as noites de sexta e sábado como “o parto da personagem”, uma mulher obcecada por reter a “epidemia da informação”. O texto é de Patrícia Melo e a direção, de Aderbal Freire-Filho.

Segundo Deborah Colker, “Cruel” recorre ao adjetivo-título para lançar “um olhar sobre o amor, a vida, a beleza, a traição, a rejeição etc”. A série de movimentos, que seria mostrada ontem, inclui um grande baile no prólogo. Objetos como mesa e espelho imprimem tons surrealistas. “Não há nada mais cruel na vida do que olhar-se no espelho”, disse ela.

Pesquisas dramatúrgicas e experimentos de linguagem cênica não estiveram restritos ao Fringe; também ganharam espaço na mostra oficial. Ainda inacabado, “Deserto” foi exibido no casarão Novelas Curitibanas na sexta. A partir da temática da fragilidade e com um enredo apenas esboçado, a Cia. Brasileira de Teatro apresentou exercícios de improvisação.

Utilizando uma língua imaginária, Melo tentou, às vistas da platéia, traçar caminhos para seu personagem -um homem que busca no sonho e no devaneio meios para escapar da realidade e dar sentido à vida.

“As pessoas têm uma curiosidade sobre a criação teatral, sobre como se chega à obra final. Queremos diminuir essa distância que separa o público da platéia. Revelar o que há de inacabado e imperfeito, quais são os nossos dilemas”, disse o ator. 

Jornalista e crítico fundador do site Teatrojornal – Leituras de Cena, que edita desde 2010. Escreveu em publicações como Folha de S.Paulo, Valor Econômico, Bravo! e O Diário, de Mogi das Cruzes, na Grande São Paulo. Autor de livros ou capítulos afeitos ao campo, além de colaborador em curadorias ou consultorias para mostras, festivais ou enciclopédias. Cursa doutorado em artes cênicas pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, onde fez mestrado na mesma área.

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