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Folha de S.Paulo

Grupo Tapa encontra o humor inglês

11.3.2008  |  por Valmir Santos

São Paulo, terça-feira, 11 de março de 2008

TEATRO 
Em cartaz no Sesc Vila Mariana, “Retratos”, de Alan Bennet, reúne monólogos concebidos para série da BBC nos anos 80 

Com recursos cenográficos mínimos, Chris Couto e Clara Carvalho encenam texto do roteirista do filme “As Loucuras do Rei Jorge”

VALMIR SANTOS
Da Reportagem Local 

O dito humor inglês é complexo e sofisticado como se imagina. Da língua de Shakespeare, Oscar Wilde ou Bernard Shaw, para falar de três autores que já montou, o grupo Tapa agora visita um contemporâneo, Alan Bennett (1934), de quem não há notícias em palcos brasileiros, mas sim nas telas: ele é o roteirista de “As Loucuras do Rei Jorge” (1995). 

O britânico Bennett que entra em cartaz hoje em São Paulo, no Sesc Vila Mariana, é o das seis histórias curtas da série televisiva “Talking Heads”, que levou à BBC nos anos 1980 e depois ao teatro, na forma de monólogos. O Tapa apresenta quatro deles no projeto “Retratos Falantes”, dividido em dois programas. 

“É um humor sutil, sarcástico e, ao mesmo tempo, delicado. Acho um pouco parecido com as peças do [russo Anton] Tchecov”, afirma a atriz e tradutora Clara Carvalho, 48. O primeiro programa, em cartaz até 8 de abril, traz “A Sua Grande Chance”, com Chris Couto, e “Uma Cama entre Lentilhas”, com Carvalho. 

Lesley é aspirante a atriz em “A Sua Grande Chance”. Falante, tenta a todo custo migrar da condição de figurante para a de protagonista. Crê poder encontrar o papel de sua vida indo a festas de artistas e famosos. Susan é sua antípoda em “Uma Cama entre Lentilhas”. 

Mulher de um reverendo anglicano, participa de atividades comunitárias (coral, quermesse) das quais não gosta. Alcoólatra, logo vira bode expiatório da paróquia. 

“Uma é muito reprimida e a outra, exuberante. Mas ambas são solitárias”, diz Carvalho, sobre os espetáculos dirigidos por Eduardo Tolentino. 

Fusão
São mínimos os objetos cenográficos: uma mesa, duas cadeiras. “É um teatro de câmara. O que está em cena é o texto”, diz Carvalho. Não existe blecaute entre uma peça e outra; busca-se uma fusão. Quando, passados cerca de 40 minutos, Couto deixa o palco por uma escada, Carvalho sobe por outra para a segunda peça. 

Um dos fundadores do Tapa, há 29 anos, Tolentino, 53, foi quem descobriu o autor ao assistir a uma montagem da obra na Europa. 

Também dirige “Retratos Falantes 2”, com estréia prevista para 9 de abril: virão os monólogos “Fritas no Açúcar”, com Brian Penido Ross (Graham vive relação de mútua dependência com a mãe esclerosada e é surpreendido pela visita de um ex-namorado); e “A Senhora das Cartas”, com Beatriz Segall (Irene vai às últimas conseqüências ao protestar em jornais e em público como se fosse porta-voz de um coletivo).



Peça:Retratos falantes I 
Onde: Sesc Vila Mariana – auditório (r. Pelotas, 141, tel. 0/xx/11 5080-3000) 
Quando: estréia hoje; ter. e qua., às 20h30; até 8/4 
Quanto: R$ 5 a R$ 20 

Jornalista e crítico fundador do site Teatrojornal – Leituras de Cena, que edita desde 2010. Escreveu em publicações como Folha de S.Paulo, Valor Econômico, Bravo! e O Diário, de Mogi das Cruzes, na Grande São Paulo. Autor de livros ou capítulos afeitos ao campo, além de colaborador em curadorias ou consultorias para mostras, festivais ou enciclopédias. Cursa doutorado em artes cênicas pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, onde fez mestrado na mesma área.

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