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Folha de S.Paulo

Autora feminista expõe crise masculina no palco

17.4.2008  |  por Valmir Santos

São Paulo, quinta-feira, 17 de abril de 2008

TEATRO 

Peça de Leilah Assumpção retrata homem de 40 com casamento em frangalhos
“Ilustríssimo Filho da Mãe”, que estréia no teatro Jaraguá, tem ambientação inspirada em obra do norte-americano Edward Hopper

Peça de Leilah Assumpção retrata homem de 40 com casamento em frangalhos

“Ilustríssimo Filho da Mãe”, que estréia no teatro Jaraguá, tem ambientação inspirada em obra do norte-americano Edward Hopper 

VALMIR SANTOS
Da Reportagem Local 

A dramaturga Leilah Assumpção passou 40 anos subvertendo convenções sociais, afetivas e sexuais sobre a mulher. Agora, suas Mariazinhas e Amélias dão vez a Jorginhos da vida. “Estou muito apaixonada pelo universo dos homens”, diz a autora, de viés feminista assumido, que despontou em fins dos anos 60 com “Fala Baixo Senão Eu Grito”. 
 
O executivo Jorge Araújo é o protagonista da peça inédita “Ilustríssimo Filho da Mãe”, cuja montagem de Marcio Aurélio estréia hoje no teatro Jaraguá, região central de SP. Pela primeira vez, a autora trata da crise da masculinidade em tempos ditos pós-feministas. 
 
Notadamente, o sujeito de 40 anos, sob as ordens da mãe, com o casamento em frangalhos. O tema foi tangenciado há seis anos, em “Intimidade Indecente”, retrato dos dilemas de um casal maduro. Dessa vez, o foco são as vicissitudes do macho. 
 
“Até hoje, quando briga com a mulher e a deixa, a maioria dos homens vai direto para a casa da mãe”, diz Assumpção, 64. “E elas fazem o mesmo”, afirma Miriam Mehler, 72, intérprete de Lena, mãe “prafrentex, bem-resolvida, que quer a felicidade do filho”, nas palavras da atriz. 
 
Recém-concluída a temporada do espetáculo “Don Juan”, no qual defendeu o papel-título, o ator Jairo Mattos encara um antípoda em “Ilustríssimo”. “Don Juan exerce a crueldade masculina no limite da canalhice. Aqui, o Jorge Araújo joga pistas falsas e, aos poucos, enfrenta os seus pequenos dramas, revela a necessidade de se transformar”, diz Mattos, 45. 
 
O personagem peleja entre a profissão que exerce e a vocação que desprezou; a mãe de seus filhos, inteligente, que não cozinha, mas tem pernas lindas; e a amante mais jovem, “pura”, sem dotes gastronômicos, mas de nariz bonito. “O homem contemporâneo precisa ser ativo, altivo, decidido e ter pau duro. Coitadinho”, diz Assumpção. Segundo ela, as mulheres tornaram-se “um pouco duras”; precisariam olhá-los “com mais generosidade”. 
 
Renata Imbriani completa o elenco, no papel da mulher. A amante e o melhor amigo do filho são apenas citados. Para o diretor Marcio Aurélio, Assumpção é uma “cronista” do palco. Sua encenação quer dispensar o universo realista dos personagens em favor da “poesia sobre o cotidiano”. 
 
A cenografia de Sylvia Moreira, o visagismo de Fabio Namatame e o desenho de luz de Domingos Quintiliano compõem um ambiente reconstruído a partir de uma obra do americano Edward Hopper, “Quartos ao Pé do Mar”. Eis o pano de fundo para uma noite de acertos, de diálogos francos de quem se ama. 



Peça: Ilustríssimo filho da mãe
Quando: estréia hoje, às 21h; qui. a sáb., às 21h; dom., às 19h 
Onde: teatro Jaraguá – Novotel Jaraguá (r. Martins Fontes, 71, tel. 3255-4380) 

Quanto: R$ 60 

 

Jornalista e crítico fundador do site Teatrojornal – Leituras de Cena, que edita desde 2010. Escreveu em publicações como Folha de S.Paulo, Valor Econômico, Bravo! e O Diário, de Mogi das Cruzes, na Grande São Paulo. Autor de livros ou capítulos afeitos ao campo, além de colaborador em curadorias ou consultorias para mostras, festivais ou enciclopédias. Cursa doutorado em artes cênicas pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, onde fez mestrado na mesma área.

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