São Paulo, segunda-feira, 28 de abril de 2008
TEATRO
Para a companhia Générik Vapeur, polícia impediu encenação; PM diz que houve “sugestão em comum acordo’
O secretário municipal de Cultura, Carlos Augusto Calil, admitiu que a polícia tomou um “susto” e disse que a ferida de 2007 ainda está aberta
Para a companhia Générik Vapeur, polícia impediu encenação; PM diz que houve “sugestão em comum acordo’
O secretário municipal de Cultura, Carlos Augusto Calil, admitiu que a polícia tomou um “susto” e disse que a ferida de 2007 ainda está aberta
VALMIR SANTOS
Da Reportagem Local
Uma das atrações de artes cênicas mais aguardadas na Virada, a companhia francesa de teatro de rua Générik Vapeur teve cancelada a segunda apresentação de “Bivouac” (prevista para as 3h30 de ontem). Para os franceses, a Polícia Militar impediu a encenação. De acordo com a polícia, houve uma “sugestão em comum acordo”.
Segundo o adido cultural da França em São Paulo, Philipe Ariagno, a PM implicou com a atuação do grupo, que atraiu centenas de espectadores na primeira sessão, às 21h30 de sábado. A apresentação alternou instantes de correria e concentração, em meio a efeitos de fogos de artifício, gelo seco e o agito da música tocada ao vivo. Os atores do grupo criavam uma espécie de coreografia com a multidão, ora erguendo latões, ora arrastando-os.
A outra sessão foi adiada, segundo o setor de comunicação da PM, porque havia receio de que alguém se machucasse. “O coronel sugeriu, em comum acordo com a organização, que não repetissem toda a performance em deslocamento porque, naquele momento, a concentração era muito grande”, disse ontem, por telefone, a coronel Maria Aparecida de Carvalho Yamamoto, da Comunicação Social da PM. “Foi só uma sugestão. Em nenhum momento a PM impediu.”
“Não dimensionamos bem a quantidade de gente e de carros [estacionados] no percurso. Quando acabou [a primeira sessão], imediatamente fui advertido [pela PM] de que teríamos de fazer modificações”, disse o secretário municipal de Cultura, Carlos Augusto Calil.
A Folha apurou que o que mais incomodou o comando da PM foi a cena final, quando uma pirâmide de 102 latões foi derrubada e, por trás dela, surgiu um carro demolido, cuja pintura e a grafia “police” remetiam às viaturas de filmes hollywoodianos. Segundo Ariagno, a PM condicionou a segunda sessão à retirada da alusão à viatura e à execução do som apenas sob o viaduto do Chá. A companhia aceitou a primeira (a palavra “police” foi apagada), mas achou que a falta de som descaracterizaria completamente o espetáculo.
“A solicitação era para que tirassem o adesivo, porque era a simulação de uma viatura sendo destruída. Havia receio de que isso incitasse a população a fazer o mesmo em outros veículos”, disse Yamamoto.
Calil, que tentou negociar com o comando da PM durante a madrugada, admite que a polícia tomou um “susto”. “A ferida do ano passado ainda está aberta. Não podemos ser ingênuos para que a festa não tenha contaminações desnecessárias”, disse, aludindo ao tumulto ocorrido em 2007 na Sé.