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Reportagem

Monólogo vê a traição sob ótica do protagonista

6.10.2013  |  por Fábio Prikladnicki

Foto de capa: Luciane Pires Ferreira

Um homem extremamente dedicado à mulher a perde para um sujeito mais jovial e sedutor. Com esse enredo aparentemente simples, a peça A mulher do padeiro lança um olhar apaixonado sobre um episódio comezinho na vida de um personagem. O espetáculo estreou nesta sexta-feira (4/10), às 21h, na Cia. de Arte, na capital gaúcha.

Tudo se dá pelo ponto de vista do marido traído, interpretado por Evandro Soldatelli. O ator tomou contato com a história por meio do filme A mulher do padeiro (1938), do francês Marcel Pagnol. O longa foi inspirado em um trecho do romance Jean le bleu (1932), do também francês Jean Giono. A montagem gaúcha se baseia na versão teatral da história assinada por Pagnol, montada até hoje na França. O texto com 19 personagens foi reduzido a um monólogo de 50 minutos, mesclado com trechos escritos por Evandro e outros da blogueira Arlene Lopes Araújo. Esse trabalho de costura coube ao escritor Ismael Caneppele.

A produção marca um retorno ao teatro gaúcho do diretor Ramiro Silveira, radicado em São Paulo. Sua última peça em Porto Alegre havia sido Mamãe foi para o Alaska (2006), versão de True west, de Sam Shepard, que contava com Evandro no elenco. A parceria artística entre o diretor e o ator já dura 20 anos.

A trama da peça de Pagnol se passa em um vilarejo no sul da França que não tem muita sorte com seus padeiros. Aimable chega para substituir o padeiro anterior, que se enforcou. Sua mulher Aurélie acaba se enamorando pelo pastor de ovelhas Dominique, com o qual foge. Aimable passa por um longo período de negação e, quando toma consciência da traição, assume a drástica decisão de parar de produzir pães. A falta do alimento gera uma crise no vilarejo, que se mobiliza para trazer Aurélie de volta. Esse contexto social é enxugado na encenação gaúcha, que foca no sofrimento de Aimable, buscando a universalidade de sua história.

“O texto original tem uma levada um pouco datada, machista. Não queríamos mostrar a mulher como uma rameira”, explica Silveira.

Sobre o foco no drama humano em detrimento da questão política e social, Soldatelli conclui: “Não podíamos ter duas escolhas, apenas uma”.

>> Publicado originalmente no jornal Zero Hora, Segundo Caderno, em 3/10/2013.

Soldatelli no solo gaúcho sobre o ser abandonado

Ficha técnica

Texto: Marcel Pagnol

Tradução: Joseane Rucker

Adaptação: Ismael Caneppele, Evandro Soldatelli e Ramiro Silveira

Textos adicionais: Arlene Lopes de Araújo

Concepção: Evandro Soldatelli

Direção: Ramiro Silveira

Com: Evandro Soldatelli

Assistência de direção: Júlia Rodrigues

Cenário: Zoé Degani

Iluminação: Nara Freitas

Figurino: Beta Abrantes

Trilha sonora pesquisada: Giovani Lock e Dani Haetinger

Preparação corporal: Alexandre Correa

Assessoria de imprensa: Bruna Paulin

Direção de produção: Simone Buttelli

Jornalista e doutor em Literatura Comparada na Universidade Federal do Rio Grande do Sul. É setorista de artes cênicas do jornal Zero Hora, em Porto Alegre (RS). Foi coordenador do curso de extensão em Crítica Cultural da Universidade do Vale do Rio dos Sinos, em São Leopoldo (RS). Já participou dos júris do Prêmio Açorianos de Teatro, do Troféu Tibicuera de Teatro Infantil (ambos da prefeitura de Porto Alegre) e do Prêmio Braskem em Cena no festival Porto Alegre Em Cena. Em 2011, foi crítico convidado no Festival Recife de Teatro Nacional.

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