Nota
14.3.2014 | por Valmir Santos
Quando a performer espanhola Angélica Liddell ergueu o cartaz em cena de Eu não sou bonita, em que estampa “Quem quer comer Angélica Liddell”, ela e o público mal sabiam que estava dada a ”senha” para que pelo menos cinco manifestantes subissem ao palco segurando cartolinas em que se liam frases contra o “especismo”, o preconceito de espécie que viam na presença de um cavalo contracenando à direita do tablado do Teatro Cacilda Becker, no bairro paulistano da Lapa, convertido numa espécie de estábulo cenográfico.
O incidente interrompeu a sessão de estreia do espetáculo, havia transcorrido cerca de meia hora. Liddell chegou a prosseguir com o espetáculo, inclusive sugerindo para que os ativistas entrassem no foco da luz para serem lidos. Num primeiro momento, boa parte dos espectadores pensou que a ação fazia parte da obra. Até que a atriz sentou-se e a intervenção do grupo de proteção aos animais gerou protestos e vaias do lado de cá do palco.
Organizadores da MITsp e funcionários do teatro negociaram de os manifestantes terem direito a uma fala de dois minutos, o que de fato ocorreu, sob gritos e vaias. Assim que disseram a que vieram, eles se retiraram e Liddell finalmente pôde ir adiante com sua obra dilacerante sobre abuso sexual sofrido aos 9 anos. A noite terminou com a fala da psicanalista e professora da PUC-SP Sueli Rolnik, dentro dos Diálogos Transversais do evento, sob mediação da jornalista Beth Néspoli. A próxima e última sessão do solo Eu não sou bonita acontece neste sábado, às 23h.
Jornalista e crítico fundador do site Teatrojornal – Leituras de Cena, que edita desde 2010. Escreveu em publicações como Folha de S.Paulo, Valor Econômico, Bravo! e O Diário, de Mogi das Cruzes, na Grande São Paulo. Autor de livros ou capítulos afeitos ao campo, além de colaborador em curadorias ou consultorias para mostras, festivais ou enciclopédias. Cursa doutorado em artes cênicas pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, onde fez mestrado na mesma área.