15.6.2022 | por Mariana Queen Nwabasili
Há quem diga que toda crítica é uma autobiografia, tamanha a exposição das percepções e referências de quem escreve. E eu devia ter por volta de 8 anos de idade quando meu pai, que é imigrante nigeriano, costumava reunir os filhos para comer na mesa da cozinha sopas tradicionais de seu país, enquanto contava histórias que ele mesmo tinha escutado ou vivido quando criança em África. Ao final da refeição e do conto, percebíamos ter adquirido mais alguns aprendizados para a vida.
Leia mais12.6.2022 | por Valmir Santos
Em 2021, Um jardim para educar as bestas foi registrado em vídeo na praça Tempo Espaço, território que na verdade é uma exposição permanente ao ar livre, instalada no Museu Exploratório de Ciências da Unicamp, em Campinas (SP). Dali dá para contemplar nasceres e pores do sol, interagir com bússolas, lunetas ou teodolitos, instrumentos para medir ângulos horizontas e verticais. O ator Eduardo Okamoto e o pianista, compositor e arranjador Marcelo Onofri apresentaram-se à luz do dia no mirante de 360º de horizontes, sob a vastidão do céu azul, algumas nuvens brancas e raios solares. Uma performance sem público, propriamente dito, pois aqueles eram dias de isolamento social.
Leia mais8.6.2022 | por Amabilis de Jesus
Todos, todas e todes vieram em seguida. Leonarda já estava lá. E é verdade que era bruta, uma força bruta. Ácida. Puro escárnio, e palavras cortantes. Palavras-ponta-afiada. Lançava-as. Tratava-se de um treinamento constante. Tratava-se de uma metodologia. Tratava-se de resiliência. Ou nada disso Chegou lapidada. Entendemos depois. Chegou pronta. Emancipada. Cedo. Antes que as teorias todas nos fossem familiares.
Leia mais6.6.2022 | por Maria Eugênia de Menezes
O teatro afeta 3% da população. A afirmação do diretor francês Mohamed El Kathib, em uma entrevista ao jornal Libèration, dá conta de sua visão sobre os limites das artes cênicas. Se o teatro afeta 3% da população – e estamos olhando aqui para o contexto europeu – qual o sentido pragmático de se falar de um teatro político hoje? Distante do seu passado de arte de massas, o teatro teria hoje outros propósitos. Um deles, parece crer Khatib, é promover o encontro entre pessoas que dificilmente teriam outras chances de se encontrar. Em Estádio (Stadium), espetáculo que abriu a 8ª MITsp – Mostra Internacional de Teatro de São Paulo, esse é certamente um motor.
Leia maisCircuito alternativo que nasceu em torno das atividades da MITsp – Mostra Internacional de Teatro de São Paulo, a FarOFFa sempre se colocou por entre as frestas. Seja pelo seu caráter de festival paralelo, seja por experimentar formatos diversos ou mesmo pelo singelo jogo de palavras no nome – essa mistura do tempero brasileiro com o off, a ideia de alternativo.
Leia mais1.4.2020 | por Valmir Santos
Espetáculos internacionais da sétima edição da MITsp permitiram examinar sentimentos contraditórios da sociedade global diante do imponderável ditado pela pandemia. A curadoria soou premonitória ao circunscrever trabalhos que expuseram nuances da vulnerabilidade humana nesta hora da História e formas de distanciamento social a que agora os brasileiros estamos enquadrados não como metáfora, mas sob a concreção da medida sanitária preventiva que um terço das nações adotou com vistas a não sobrecarregar os sistemas de saúde e minimizar o número de mortes.
Leia mais16.3.2020 | por Valmir Santos
Não matarás e Não cometerás adultério (este desdobrou no longa-metragem Não amarás) estão entre os filmes para a televisão que Krzysztof Kieslowski dirigiu na juventude a partir dos dez mandamentos bíblicos do Antigo Testamento. Considerada obra-prima do polonês, a série Decálogo foi rodada no final da década de 1980 em plena agonia do regime comunista no país do leste europeu. Os episódios tinham como pano de fundo um conjunto habitacional, microcosmo do esgarçamento do tecido social. A lembrança de Kieslowski é motivada pelo encontro com o espetáculo Tu amarás, que o grupo chileno Bonobo apresentou durante a 7ª MITsp.
Leia mais13.3.2020 | por Valmir Santos
A artista francesa Phia Ménard convida espectadores a explorar o espaço da imaginação e lá construir e destruir coisas belas e terríveis – uma premissa da arte, convenhamos. Mas a centelha está em proceder em tempo real às etapas de arquitetar e ruir uma obra dentro da obra nos 90 minutos de percepções ambíguas quanto a vazio, força e desesperança em Contos imorais – parte 1: casa mãe (Contes immoraux – partie 1: maison mère).
Leia mais10.3.2020 | por Beth Néspoli
Há três décadas, em uma entrevista, a atriz portuguesa Maria do Céu Guerra vaticinou que os festivais de teatro se tornariam cada vez mais importantes. Em síntese, o argumento é o de que um evento dessa natureza altera a fruição dos participantes, porque desloca foco da atenção do entretenimento e o lança sobre o fenômeno da criação artística. Idealizada pelo diretor Antônio Araújo e pelo produtor Guilherme Marques, a Mostra Internacional de Teatro de São Paulo (MITsp) surge em 2014 com essa ambição. Com o intuito de produzir pensamento sobre as artes cênicas tendo como polo irradiador teatralidades de diferentes geografias, formas e temas, e as respectivas vinculações entre cena e territórios de origem tornaram-se também objeto de análises promovidas pelos organizadores.
Leia mais2.4.2019 | por Maria Eugênia de Menezes
Como se viu em boa parte da programação da MITsp 2019, Paisagens para não colorir, espetáculo da Compañía de Teatro La Re-Sentida, do Chile, parte de episódios e histórias verídicas. Nesse exemplar de teatro documentário, foram considerados os testemunhos de adolescentes entre 13 e 16 anos. Durante mais de um ano de workshops e entrevistas, a equipe do diretor Marco Layera investigou não apenas as violências a que são submetidas as garotas de seu país, como também garantiu que seus questionamentos e subjetividades tivessem espaço. Leia mais