Reportagem
1.4.2014 | por Maria Eugênia de Menezes
Foto de capa: Silvana Marques
Considerado o maior das Américas e um dos maiores do mundo, o Festival Ibero-americano de Bogotá abre nesta sexta, 4, sua edição 2014 com um convidado especial. O Brasil será o país homenageado do evento, que prossegue até o dia 20.
Para a ministra da Cultura, Marta Suplicy, trata-se de “uma oportunidade para a internacionalização da cultura brasileira”. Em Bogotá, a mostra deve receber mais de 3 mil artistas, vindos de 25 países. Na última edição, em 2012, o público chegou a 2, 8 milhões de espectadores.
Com verba do Minc de R$ 550 mil e boa parte dos custos coberta pelo próprio festival, serão sete os espetáculos nacionais a serem vistos na capital colombiana. Para a grade foram escolhidos representantes do teatro do Rio, São Paulo e Belo Horizonte. Entre eles, nomes de prestígio, como Antunes Filho, que leva o seu Toda nudez será castigada, e o Grupo Galpão, que segue com Till – A saga de um herói torto. Também reservou-se espaço para jovens dramaturgos e encenadores, caso de Leonardo Moreira, que apresentará O jardim, e Grace Passô, à frente de Amores surdos.
Mesmo com uma imensa oferta de títulos – serão 41 companhias internacionais, 36 colombianas e 22 grupos de teatro de rua –, o interesse pelo país homenageado parece ser grande. A maior parte dos espetáculos brasileiros já está com ingressos esgotados.
Outra ação do País no festival será o lançamento de uma coleção com 14 obras de dramaturgos brasileiros traduzidas para o espanhol. Todos os textos merecerão leitura dramática com atores colombianos. “Vamos lançar também em francês, inglês e mandarim”, promete Marta.
Para o dia da abertura, está previsto um desfile com o bloco Os Negões, de Salvador, e a encenação do musical de João Falcão, Gonzagão – A lenda.
Criado em 1988, o festival atravessou um dos períodos mais conturbados e violentos da história da Colômbia. Em sua edição inaugural, foi alvo de uma bomba e de uma série de ameaças. Mas conseguiu sobreviver e tornar-se referência internacional.
A presença do teatro brasileiro em Bogotá inspira-se em iniciativas semelhantes em relação à literatura: a Feira Literária de Frankfurt e a Feira do Livro Infantil e Juvenil de Bolonha. Os dois eventos tiveram o Brasil como convidado especial em suas últimas edições. “Foram grandes possibilidades para que o Brasil pudesse ser visto de maneira diferente”, observa a ministra.
Outro dado destacado por ela foi a possibilidade de crescimento econômico para esses setores da cultura durante eventos internacionais. “É uma oportunidade de produzir negócios”, acredita.
Oportunidades comerciais para a cultura brasileira também poderiam ser criadas para o Brasil durante a Copa do Mundo. Mas, às vésperas do evento, a programação cultural nas cidades-sede ainda não foi divulgada. Existe, inclusive, grande temor de que o evento paralise a agenda artística usual. Para o Minc, porém, a preparação para a ocasião foi adequada. Entre as ações, a ministra chamou atenção para o edital Vitrines Culturais, que levará artesãos a mostrar sua produção durante o período de jogos.
Publicado originalmente em O Estado de S.Paulo, Caderno 2, p. C6, em 1º/4/2014.
Obras escolhidas:
● Gonzagão – A lenda
Texto e direção de João Falcão
● Maravilhoso
De Diogo Liberano
● Till – A saga de um herói torto
De Luís Alberto de Abreu e com Grupo Galpão
● O jardim
De Leonardo Moreira e com Cia. Hiato
● Amores surdos
De Grace Passô e direção de Rita Clemente, com Grupo Espanca!
● Toda nudez será castigada
De Nelson Rodrigues e direção de Antunes Filho
● Dama do mar
De Henrik Ibsen e direção de Bob Wilson
Crítica teatral, formada em jornalismo pela USP, com especialização em crítica literária e literatura comparada pela mesma universidade. É colaboradora de O Estado de S.Paulo, jornal onde trabalhou como repórter e editora, entre 2010 e 2016. Escreveu para Folha de S.Paulo entre 2007 e 2010. Foi curadora de programas, como o Circuito Cultural Paulista, e jurada dos prêmios Bravo! de Cultura, APCA e Governador do Estado. Autora da pesquisa “Breve Mapa do Teatro Brasileiro” e de capítulos de livros, como Jogo de corpo.