Reportagem
3.4.2014 | por Fábio Prikladnicki
Foto de capa: Alex Ramirez
Com Anjo da guarda, o diretor Paulo Guerra finaliza sua trilogia homoafetiva iniciada com Dois de paus (2011) e continuada com Entre nós (2013). Embora tenham em comum o tema das relações entre iguais, os espetáculos apresentam histórias independentes entre si. O novo trabalho da Cia. Halarde, que estreou na sexta-feira, está em cartaz no Teatro de Câmara Túlio Piva até 20 de abril.
Enquanto as demais produções trataram de relacionamentos entre jovens, esta aborda um personagem na maturidade. Anjo da guarda coloca em cena Antônio (interpretado por Carlos Paixão), um homem de classe média de 50 anos que contrata o garoto de programa Vinícius (Boni Rangel), mas ainda pensa em Cláudio, uma antiga paixão. A lembrança do amor não correspondido provoca em Antônio ideias de morte, conferindo um tom lúgubre à história, que começa como uma comédia e se transforma, aos poucos, em um thriller.
Esta é a primeira encenação do texto publicado em 2005 pelo dramaturgo paulista Franz Keppler, autor de Camille & Rodin, que esteve em Porto Alegre em 2013, e de Divórcio, que estreará na cidade no segundo semestre deste ano. Tudo começou quando o ator Boni Rangel assistiu, no ano passado, em São Paulo, a uma leitura dramática de Anjo da guarda.
Na versão do diretor Paulo Guerra, a ação é transposta de São Paulo para Porto Alegre, embora a cidade não seja citada em cena. E os personagens se tratam por “tu”, e não “você”. A plateia conta com apenas 60 espectadores por sessão, sentados em cadeiras que ficam em cima do palco. Sobre a garimpagem de textos para a trilogia homoafetiva, Guerra afirma:
“Há muitos textos sobre o tema para serem montados, mas a maioria tem um enfoque sexual e soa como caricatura, estereótipo. Nestas peças, procurei tratar como um assunto universal. Os problemas de relacionamento são iguais para todos, independentemente de serem héteros ou homossexuais.”
O diretor lamenta que o preconceito ainda seja um tema presente “em pleno século 21”:
“Preconceito não é apenas sexual. Há preconceito de cor, de religião. Agora mesmo houve caso de racismo no futebol. Temos tanta tecnologia, tanto conhecimento, mas parece que as pessoas esquecem do relacionamento humano. Toda vez que monto um espetáculo aparecem mais notícias de homicídio, de preconceito em boates.”
Em 2015, a Cia. Halarde vai comemorar seus 25 anos – boa parte deles dedicada ao teatro infantil – com uma nova montagem do clássico João e o pé de feijão.
.:. Publicado originalmente no jornal Zero Hora, Segundo Caderno, p. 5, em 3/4/2014.
Serviço:
Onde: Teatro de Câmara Túlio Piva (Rua da República, 575, Porto Alegre, tel. 51 3289-8093)
Quando: Sexta a domingo, às 20h. Até 20/4.
Quanto: R$ 25.
Ficha técnica:
Texto: Franz Keppler
Direção: Paulo Guerra
Com: Boni Rangel e Carlos Paixão
Cenografia e figurinos: Antonio Rabadan
Iluminação: Anílton Souza
Trilha sonora original: Ben-hur Borges
Arte: Sandro Ka
Realização: Cia.
Jornalista e doutor em Literatura Comparada na Universidade Federal do Rio Grande do Sul. É setorista de artes cênicas do jornal Zero Hora, em Porto Alegre (RS). Foi coordenador do curso de extensão em Crítica Cultural da Universidade do Vale do Rio dos Sinos, em São Leopoldo (RS). Já participou dos júris do Prêmio Açorianos de Teatro, do Troféu Tibicuera de Teatro Infantil (ambos da prefeitura de Porto Alegre) e do Prêmio Braskem em Cena no festival Porto Alegre Em Cena. Em 2011, foi crítico convidado no Festival Recife de Teatro Nacional.