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Reportagem

Festival ressignifica espaço público em Poa

19.4.2014  |  por Michele Rolim

Foto de capa: Layza Vasconcelos

Buscando novos horizontes, o Festival de Teatro de Rua de Porto Alegre realiza sua sexta edição a partir deste domingo, e se estende até o dia 29 de abril. O evento se consolida como internacional e adquire um outro olhar a partir da curadoria assinada pelo consultor Marcelo Bones, compartilhada com o coordenador e diretor artístico do festival, Alexandre Vargas. Os números mostram o fôlego do evento. Serão 24 companhias teatrais, com 27 espetáculos (dois internacionais, oito nacionais e 17 regionais), realizando 61 apresentações em 28 bairros de Porto Alegre. Na programação há espetáculos, intervenções urbanas, performance, dança e – até mesmo – comida de rua.

Segundo Vargas, o fato de a programação estar diversificada em termos de linguagens se deve, em boa parte, a um fenômeno internacional: a transformação da rua como espaço de reivindicação, como visto no ano passado, quando o Brasil teve as ruas ocupadas nos protestos que pediam melhorias em diversos setores públicos. “Isso replica em várias manifestações artísticas, que também vão para a rua. Como reflexo, a programação está bem pulverizada”, comenta Vargas, que propõe um recorte conceitual voltado para esta redefinição de sociabilidade do espaço urbano.

Na atual edição do Festival de Teatro de Rua de Porto Alegre, é possível observar uma mudança estética na produção local. “Há mais espetáculos performáticos do que de rua tradicional. Além disso, as montagens têm uma tendência a circular, saindo de pontos fixos”, explica Vargas, que pensou o evento levando em consideração a cidade e seus diversificados públicos. “Diferentemente das pessoas do Brique da Redenção [tradicional feira de artesanato, antiguidade, artes visuais e gastronomia no Parque Farroupilha] e dos bairros, o centro tem um espectador rumando para sua casa ou para o trabalho. Há muito barulho, então temos que criar um barulho ainda maior para atritar. Por isso, várias coisas acontecem simultaneamente”, destaca o coordenador, que também levou os espetáculos para bairros distantes e, até mesmo, para os presídios.

O grupo mais aguardado desta edição é o francês Générik Vapeur (uma das principais companhias de teatro de rua do mundo, com 30 anos de trajetória) com a montagem Bivoac. A exemplo do que aconteceu com o grupo francês Compagnie Houdart-Heuclin na edição passada, o Generik irá promover na cidade uma residência artística com atores locais. “Isso é uma descentralização efetiva não apenas territorial, mas de saberes”, comenta Vargas, que já adianta: em 2015, o grupo australiano Snuff Puppets fará, também, uma residência no festival e depois levará o espetáculo, resultado da residência, para o seu país.

Obra do catalão Roger Bernat homenageia Pina Bausch

Outra atração internacional é o catalão Roger Bernat que, ano passado, apresentou Domínio público e traz, em 2014, A sagração da primavera, montagem sobre a coreografia de Pina Bausch e música de Igor Stravinsky. Assim como o outro espetáculo de Bernat, o público está convidado a entrar no espaço delimitado para a encenação com fones de ouvidos.

Destacam-se, ainda, espetáculos das cidades de Brasília e Goiânia, regiões “ainda com cena pouco explorada”, ressalta Vargas. Da capital de Goiás chegam dois grupos: Teatro que Roda, com Das saborosas aventuras de Dom Quixote de La Mancha e seu fiel escudeiro Sancho Pança e Makunaíma na terra do pindorama; e Teatro Nu Escuro, com Gato negro. De Brasília vem a Cia. de Teatro Andaime, com Serpentes que fumam; e da vizinha Itajaí (SC) chega o grupo Eranos – Círculo de Arte, com Ronin luz e sombra.

Os gaúchos não ficam de fora, com destaque para Ói Nóis Aqui Traveiz, que aposta na performance Onde? ação nº 2; Genifer Gerhardt com Brasil pequeno (que abre esta edição), Coletivo Transpiro!, que propõe uma intervenção urbana, além da Cambada de Teatro Levanta Favela, Oigalê e Povo da Rua, entre outros.

Performance do Ói Nóis Aqui Traveiz

Serviço:
6º Festival Internacional de Teatro de Rua de Porto Alegre
Onde: vários espaços abertos de Porto Alegre.
Quando: 20/4 a 29/4.
Quanto: grátis.
Mais informações: http://ftrpa.com.br.

.:. Publicado originalmente no Jornal do Comércio, caderno Viver, p. 1, em 17/4/2014.

Jornalista e mestra pelo Programa de Pós-Graduação em Artes Cênicas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Desenvolve pesquisa em torno do tema curadoria em festivais de artes cênicas. É a repórter responsável pelo setor de artes cênicas do Jornal do Comércio, em Porto Alegre (desde 2010). Participou dos júris do Prêmio Açorianos de Teatro, do Troféu Tibicuera de Teatro Infantil (ambos da Prefeitura de Porto Alegre) e do Prêmio Braskem em Cena no festival internacional Porto Alegre Em Cena. É crítica e coeditora do site nacional Agora Crítica Teatral e membro da Associação Internacional de Críticos de Teatro, AICT-IACT (www.aict-iatc.org), filiada à Unesco). Por seu trabalho profissional e sua atuação jornalística, foi agraciada com o Prêmio Açorianos de Dança (2015), categoria mídia, da Secretaria de Cultura da Prefeitura de Porto Alegre (2014), e Prêmio Ari de Jornalismo, categoria reportagem cultural, da Associação Rio Grandense de Imprensa (2010, 2011, 2014).

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