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Reportagem

Pesquisador mapeia dramaturgia gaúcha

20.1.2015  |  por Michele Rolim

Foto de capa: Reprodução

O pesquisador Antenor Fischer, 55 anos, se dedicou a um trabalho de formiguinha nos últimos anos em dedicação à memória do teatro do estado. Ele desenvolveu o Dicionário de autores da literatura dramática do Rio Grande do Sul (Fischer Press, 2014, 350 págs., R$ 70) durante o programa de pós-doutoramento sob a orientação do professor doutor Luís Augusto Fischer, da Ufrgs – que, apesar do sobrenome, não é parente do autor. “Pode-se, agora, continuar discutindo a qualidade artístico-literária das peças teatrais, mas jamais a quantidade”, avisa o pesquisador.

São 912 verbetes de autores registrados, incluindo os autores teatrais, dos primórdios (década de 1830) à atualidade. Segundo o pesquisador, estão incluídos também aqueles que produziram apenas um texto e, ainda, os que não tiveram suas peças encenadas ou publicadas. Tratam-se de autores nascidos no Rio Grande do Sul que acabaram desenvolvendo sua produção em outros estados e, ainda, aqueles de outros lugares que fixaram residência em solo gaúcho. A iniciativa é inédita no estado.

Para chegar a tantos verbetes, foram consultadas obras de diversos historiadores, enciclopédias, peças publicadas existentes em acervos e bibliotecas. Fischer verificou ainda manuscritos, como os que se encontram no depósito do Teatro de Arena de Porto Alegre. Há, em cada verbete, informações sobre o autor, bem como sua formação escolar e profissional, sua produção dramática (com diversos dados sobre a mesma) e, ainda, ao final, há indicação da localização da peça.

Apesar da rigorosa e preciosa pesquisa, nenhuma editora demonstrou interesse em publicar o trabalho. Assim, Fischer abriu sua própria, a Fischer Press e, com ela, imprimiu 100 exemplares. Destes, ainda restam 70 para comercialização. “Eu havia feito um pós-doutorado em Letras na PUC RS. Ao término, comecei a limpar as gavetas e percebi que havia acumulado muito material, um fichário para cada autor. Por sugestão da professora Maria Eunice Moreira, resolvi ir ao pós da Ufrgs ampliar a pesquisa”, relembra.

Deste modo, a publicação é uma complementação de outras três pesquisas acadêmicas do autor: A literatura dramática do Rio Grande do Sul, do século XIX – subsídios para uma história (dissertação de mestrado, 2003); A literatura dramática do Rio Grande do Sul – de 1900 a 1950 (tese de doutorado, 2007, dois volumes); e Antologia da literatura dramática do Rio Grande do Sul – século XIX (pós-doutorado, 2009).

Este último reúne oito volumes temáticos. No primeiro, intitulado Autores primordiais e textos fundadores, chama a atenção que Fischer busca descobrir a origem da dramaturgia gaúcha. Ele discute a quem pertence a primazia no teatro e na literatura dramática sul-rio-grandenses. Conforme o pesquisador, há quatro autores que estão entre os possíveis primeiros. Um deles assina a obra O político e liberal, por especulação, escrito em 1832 e publicado em 1834, com o pseudônimo de Hum Militar Avulso; outro é Manuel de Araújo Porto Alegre, que produziu em 1836 e publicou em 1837 a peça Prólogo dramático; completam a lista, ainda, José Manuel Rego Vianna, autor do drama Quarenta anos ou O negociante colono, escrito em 1836 e não impresso e, por fim, Manuel José da Silva Bastos, autor da obra O castelo de Oppenheim ou O tribunal secreto, representado e publicado em 1849.

“O interessante em história é que nada é definitivo. Há poucos dias descobri mais um autor, o jornalista Hipólito da Costa (1774-1823), que viveu no estado. Eu soube que encontraram os manuscritos dele de uma peça de teatro, estou tentando localizar o texto”, conta entusiasmado o pesquisador.

Fischer, além de historiador da literatura dramática gaúcha, é um amante do teatro. Graduou-se em artes cênicas na Ufrgs e, na década de 1980, integrou o grupo Caixa de Pandora, formado por funcionários da Caixa Econômica Federal, local em que trabalhou como bancário e está aposentado. “O que me move é o amor à arte, o teatro precisa evoluir, dar um passo adiante”, afirma.

Os interessados em adquirir o livro devem mandar e-mail para fischerpress@gmail.com.

.:. Publicado originalmente no Jornal do Comércio, caderno Panorama, p. 1, em 15/1/2015.

Jornalista e mestra pelo Programa de Pós-Graduação em Artes Cênicas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Desenvolve pesquisa em torno do tema curadoria em festivais de artes cênicas. É a repórter responsável pelo setor de artes cênicas do Jornal do Comércio, em Porto Alegre (desde 2010). Participou dos júris do Prêmio Açorianos de Teatro, do Troféu Tibicuera de Teatro Infantil (ambos da Prefeitura de Porto Alegre) e do Prêmio Braskem em Cena no festival internacional Porto Alegre Em Cena. É crítica e coeditora do site nacional Agora Crítica Teatral e membro da Associação Internacional de Críticos de Teatro, AICT-IACT (www.aict-iatc.org), filiada à Unesco). Por seu trabalho profissional e sua atuação jornalística, foi agraciada com o Prêmio Açorianos de Dança (2015), categoria mídia, da Secretaria de Cultura da Prefeitura de Porto Alegre (2014), e Prêmio Ari de Jornalismo, categoria reportagem cultural, da Associação Rio Grandense de Imprensa (2010, 2011, 2014).

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