Menu

Reportagem

Autor alemão cria ‘estranhamento familiar’

23.4.2015  |  por Michele Rolim

Foto de capa: Eduardo Rabin

Depois de mais de uma década sem montar um texto alemão, o diretor Camilo de Lélis retorna com As quatro direções do céu (Die vier himmelsrichtungen – traduzido especialmente para a peça), do autor Roland Schimmelpfennig. A temporada se estende até 17 de maio, de quinta a domingo, sempre às 20h, no Teatro do Instituto Goethe. Trata-se da 10ª encenação do diretor de um texto alemão.

Schimmelpfennig foi apresentado ao diretor Camilo de Lélis através do texto A noite árabe, encenado em 2013 pelo Grupo Jogo. A peça foi a primeira adaptação para o português deste autor. Ele é considerado um dos mais importantes dramaturgos da Alemanha e, hoje, aos 47 anos, é o dramaturgo vivo alemão mais representado no mundo. Entre outros reconhecimentos, recebeu o Prêmio Else Lasker Schüler (1997) e o Prêmio Nestroy (2009) de melhor autor jovem.

Segundo De Lélis, Schimmelpfennig, que atualmente vive em Cuba, se inspirou no México para criar a peça, que flerta, entre outras coisas, com o realismo fantástico. São abordados em cena desejos desencontrados, busca pela felicidade, amor, fantasia e morte em um lugar em que o acaso determina as vidas dos personagens fazendo referência à mitologia grega. O espetáculo estreou em 2011 com direção do próprio autor.

Na história, um homem (Tiago Contte) sofre um acidente com seu caminhão, abandona a carga e ruma para outra vida. Outro homem (Diogo Cardoso) encontra a carga na beira da estrada e, com o achado, vê-se diante de uma nova existência. O acaso interliga essas duas pessoas para sempre, que vão se apaixonar pela mesma mulher, a garçonete (Renata de Lélis, filha do diretor). Ainda há a figura da cartomante Oiseau (Maira Holzbach), a única que conhece o destino de cada um deles.

“Os personagens que ele apresenta são heróis do cotidiano, personagens comuns, que causam ao espectador um estranhamento familiar”, afirma o diretor. De Lélis, com 37 anos dedicados ao teatro, se divide entre a montagem de autores gaúchos e alemães. A incursão pela língua alemã começou em 1991 com Macário, o afortunado, de B. Traven, e A cozinha da feiticeira, de Goethe. Seu mais recente foi em 2003, Max & Milli, de Wolker Ludwig, incluindo ainda obras de Tankred Dorst, Herbert Achternbusch, George Tabori e Werner Schwab.

Inclusive, um dos textos que ele montou de Herbert Aschternbush, que excursionou pela Alemanha, rendeu um comentário do próprio autor a De Lélis: “Finalmente, eu sou um autor brasileiro”, brincou Aschternbush. Isso se deve ao fato de que o diretor busca fazer a síntese das semelhanças e diferenças do Brasil e da Alemanha. “Eu não faço teatro alemão puramente alemão, faço um diálogo, então geralmente a nossa realidade se apresenta dentro de uma dramaturgia alemã, foi isso que interessou os autores que assistiram”, diz.

Para ele, os textos alemães permitem uma ousadia, um jogo cênico instigante, além de tratarem de problemáticas contemporâneas. “A Alemanha é um país que valoriza o teatro, fundamentalmente, como modo de pensar”, enfatiza.

Após a temporada em Porto Alegre, o espetáculo (viabilizado pelo Fumproarte), deve seguir para o Rio de Janeiro, local onde moram os três atores, e para São Paulo.

.:. Publicado originalmente no Jornal do Comércio, Caderno Viver, p. 3, em 17/4/2015.

Serviço:
Onde: Goethe-Institut Porto Alegre (Rua 24 de outubro, 112, tel. 51 2118-7800)
Quando: Quinta a domingo, às 20h. Até 17/5
Quanto: R$ 20

Ficha técnica:
Autor: Roland Schimmelpfennig
Tradução: Herta Elbern
Direção: Camilo de Lélis
Com: Diogo Cardoso, Maira Holzbach, Renata De Lélis e Tiago Contte
Iluminação: Fernando Ochoa
Trilha sonora: Antonio Villeroy
Cenografia: Felipe Helfer
Figurino: Renata De Lélis
Fotos: Edu Rabin
Produção audiovisual: Edu Rabin – Caio Amon
Produção executiva: Maira Holzbach
Assistente de produção: Renata De Lélis
Assessoria de imprensa: Silvia Mara Abreu
Programação visual: Rafael Franskowiak

Jornalista e mestra pelo Programa de Pós-Graduação em Artes Cênicas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Desenvolve pesquisa em torno do tema curadoria em festivais de artes cênicas. É a repórter responsável pelo setor de artes cênicas do Jornal do Comércio, em Porto Alegre (desde 2010). Participou dos júris do Prêmio Açorianos de Teatro, do Troféu Tibicuera de Teatro Infantil (ambos da Prefeitura de Porto Alegre) e do Prêmio Braskem em Cena no festival internacional Porto Alegre Em Cena. É crítica e coeditora do site nacional Agora Crítica Teatral e membro da Associação Internacional de Críticos de Teatro, AICT-IACT (www.aict-iatc.org), filiada à Unesco). Por seu trabalho profissional e sua atuação jornalística, foi agraciada com o Prêmio Açorianos de Dança (2015), categoria mídia, da Secretaria de Cultura da Prefeitura de Porto Alegre (2014), e Prêmio Ari de Jornalismo, categoria reportagem cultural, da Associação Rio Grandense de Imprensa (2010, 2011, 2014).

Relacionados