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Reportagem

“O ator pode ser ateu, mas o teatro é sagrado”

21.5.2015  |  por Helena Carnieri

Foto de capa: Amílcar Persichetti

Uma das missões assumidas pelo prestigiado grupo francês Théâtre du Soleil é levar ao mundo suas experiências, não só com espetáculos, mas também com oficinas e bate-papos informais.

Faz parte desse bojo a presença de Maurice Durozier em Curitiba, onde apresenta, de quinta-feira (21) a domingo (24), o espetáculo-conferência Palavra de ator.

Alguns temas tratados por ele são a realidade e a ilusão no teatro e o espaço do sagrado. “O ator pode ser ateu na vida, mas o teatro é sagrado, repleto de superstição”, contou à Gazeta do Povo por telefone.

De acordo com o ator, o texto do espetáculo nasceu da vontade de falar para brasileiros sobre o trabalho do ator. A peça estreou em 2011 em Recife e depois foi levada a vários países.

Em cena, Durozier é apoiado pela atriz brasileira Aline Borsari, também integrante do Soleil, onde está há seis anos, desde que passou numa seleção com 500 pessoas, que depois foram refinados para 40 e acabaram se tornando elenco do espetáculo Os náufragos do Louca Esperança.

Ela interpreta uma filha que questiona o pai sobre sua trajetória e dialoga com o relato que ele traz. Questiona, por exemplo, como se dá o nascimento dos personagens que ele interpreta.

Estou numa fase de transmissão, e aprendi isso na Índia. Tudo o que me foi transmitido, eu devo transmitir um dia

“Tem uma encenação, ainda que simples”, explica Aline. Ela conta que o espetáculo nasceu como conferência mesmo, mas aos poucos foram agregados movimentos, danças, músicas e imagens.

“Brincamos com o jogo e o não jogo, porque eu sou ao mesmo tempo a filha e a atriz ouvindo o ator mais experiente”, explica.

Seguindo a linha do Soleil de alimentar corpo e alma – em suas salas na periferia de Paris, o grupo vende sopas e bebidas antes dos espetáculos –, Durozier prepara um tchai indiano e serve a bebida à plateia.

A escolha não é um acaso: “Estou numa fase de transmissão, e aprendi isso na Índia. Tudo o que me foi transmitido, eu devo transmitir um dia”, conta.

O motivo das viagens constantes de Durozier ao Brasil passa também por seu encantamento com o país, onde esteve pela primeira vez em 1988, quando ministrou uma oficina de formação no Nordeste.

Aqui, em Curitiba, nesta semana, ele também ensinou sobre “as emoções do ator”, em oficina que teve mais de 100 inscritos para 25 vagas.

A próxima vinda do Soleil com um espetáculo de grande porte depende ainda de definições de agenda.

Pode ocorrer uma turnê de Macbeth, que encerrou temporada em Paris em março, mas o Brasil por enquanto não está no roteiro.

A última passagem como grupo foi com Os náufragos do Louca Esperança, em 2011.

.:. Publicado originalmente na Gazeta do Povo, no Caderno G, p. 3, em 21/5/2015.

Serviço:
Onde: Teatro da Caixa (Rua Conselheiro Laurindo, 280, Centro, Curitiba, tel. 41  2118-5111)
Quando: De hoje a sábado, às 20h; domingo, às 19h. Até 24/5.
Quanto: R$ 20

Jornalista formada pela Universidade Federal do Paraná, instituição onde cursa o mestrado em estudos literários, com uma pesquisa sobre A dama do mar de Robert Wilson. Cobre as artes cênicas para a Gazeta do Povo, de Curitiba, há três anos. No mesmo jornal, já atuou nas editorias de economia e internacional.

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