Reportagem
Um dos mais longevos festivais de bonecos do Brasil chega à sua 27ª edição com muito esforço. Onze grupos integram a programação do Festival Internacional de Bonecos de Canela. O valor do orçamento – que já era baixo em 2014 (R$ 400 mil) – diminuiu ainda mais: R$ 240 mil. Mas há uma boa novidade, apesar da redução – agora, o festival passou de quatro para 10 dias de programação. Os espetáculos se estenderão deste sábado, dia 3, até 12 de outubro, na Serra gaúcha.
A coordenação é de Lisiane Berti, diretora do Departamento de Artes Cênicas da Fundação Cultural de Canela. “Antes, era tudo muito rápido – de quinta-feira a domingo os grupos vinham, se apresentavam e iam embora. Chegou a hora de a comunidade se apropriar mais desse festival, de haver mais trocas. E, também, que os grupos possam deixar mais coisas para a cidade”, conta Lisiane, se referindo às oficinas planejadas.
Serão quatro grupos internacionais – as demais atrações são todas do Rio Grande do Sul. Volta a Canela o renomado bonequeiro espanhol Jordi Bertran com três espetáculos: Circus, montagem de marionetes e palhaços em homenagem a personagens de filmes de Charles Chaplin; El vuelo del moscardon, dessa vez, um tributo para o músico russo Nikolai Rimsky-Korsakov. Por fim, ele apresenta No clin clin, no qual converte suas mãos em personagens – este trabalho dialoga com Poemas visuales, que Bertran mostrara em outra edição.
Também regressa ao evento Viktor Antonov, do Clair De Lune (Rússia), com The circus on the strings, no qual apresenta personagens circenses – um palhaço, um faquir, uma família de macacos acrobatas e um homem-músculo. Grupo italiano com 35 anos de trajetória, The Family Theater chega pela primeira vez a Canela com Manoviva, em que os atores transformam as mãos em personagens capazes de realizar números de malabarismo e acrobacia.
Lisiane destaca, também, Clowns houses, do grupo Merlin Puppet Theatre (Grécia) – visto no Brasil ano passado, quando os ingressos para sua apresentação no Festival Internacional de Teatro de Londrina (Filo) se esgotaram no primeiro dia de vendas. Com uma estética que remete a Tim Burton, a montagem apresenta personagens tragicômicas que vivem em um ambiente claustrofóbico, com seus medos e obsessões. Trata-se de figuras presas em seus hábitos e rotinas. O espetáculo é indicado para maiores de 16 anos.
“É interessante porque tem uma temática adulta. Às vezes, o público associa teatro de bonecos a crianças. Nesta peça, eles trabalham várias técnicas, como teatro de sombras, bonecos de mesa e marionetes”, avisa a coordenadora. Os grupos gaúchos confirmados são Só Rindo, Cia Goliardos, De Pernas pro Ar e Cia Lisi Berti.
Os ingressos custam de R$ 20,00 a R$ 40,00, podendo ser adquiridos pela internet, no site http://bonecoscanela.com.br. Há, ainda, a tradicional programação de rua, sempre gratuita, com desfile de bonecos e apresentações ao ar livre, além de atividades de descentralização – como peças no Oásis Santa Angela e no Presídio Estadual de Canela.
Também haverá o lançamento de uma revista do Departamento de Artes Cênicas da Fundação Cultural de Canela com a história do Festival de Teatro de Canela e dos bonecos. Para 2016, a ideia é assinar a curadora (neste ano, foi dividida com Tiago Melo) e manter a proposta de uma programação de 10 dias na primavera.
.:. Publicado originalmente no Jornal do Comércio, caderno Panorama, p.1, em 30/9/2015.
Jornalista e mestra pelo Programa de Pós-Graduação em Artes Cênicas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Desenvolve pesquisa em torno do tema curadoria em festivais de artes cênicas. É a repórter responsável pelo setor de artes cênicas do Jornal do Comércio, em Porto Alegre (desde 2010). Participou dos júris do Prêmio Açorianos de Teatro, do Troféu Tibicuera de Teatro Infantil (ambos da Prefeitura de Porto Alegre) e do Prêmio Braskem em Cena no festival internacional Porto Alegre Em Cena. É crítica e coeditora do site nacional Agora Crítica Teatral e membro da Associação Internacional de Críticos de Teatro, AICT-IACT (www.aict-iatc.org), filiada à Unesco). Por seu trabalho profissional e sua atuação jornalística, foi agraciada com o Prêmio Açorianos de Dança (2015), categoria mídia, da Secretaria de Cultura da Prefeitura de Porto Alegre (2014), e Prêmio Ari de Jornalismo, categoria reportagem cultural, da Associação Rio Grandense de Imprensa (2010, 2011, 2014).