São Paulo, quarta-feira, 02 de agosto de 2005
TEATRO
Companhia prepara “Na Linha de Fogo”, sua nova peça
VALMIR SANTOS
Da Reportagem Local
Depois de “Os Collegas” (2003), espetáculo que revisitou os bastidores do poder na era Collor (1990-92) -mão na luva para a fiada de corrupção rediviva-, a Cia.de Atores Bendita Trupe investiga outra violência endêmica no país, a criminal, que atinge morro e asfalto.
A segunda etapa do ciclo “Da Cidadania Ultrajada à Marginalidade – Os Protagonistas da História”, que começa hoje na loja Fnac da av. Paulista, colhe vivências e pareceres do poder, já mirando a peça “Na Linha de Fogo”, próxima montagem da companhia, prevista para novembro.
“O crime organizado atinge todas as estruturas da sociedade: da comunidade mais simples, onde se instala o traficante, aos poderes da República; passa pela polícia, pela justiça e pela política”, afirma a diretora Johana Albuquerque, 40, que assina a curadoria do ciclo.
“Existe violência na camada de baixo da sociedade civil e corrupção disseminada na camada de cima. As duas têm forte intercâmbio”, acredita a diretora.
Segundo Albuquerque, a idéia dos quatro encontros gratuitos, sempre às terças-feiras, é ouvir as diferentes versões dos protagonistas dessa história: a menina de rua, o policial, o sobrevivente do massacre, aquele que assiste às crianças e jovens carentes, o representante da segurança pública, o sociólogo, o antropólogo, o pesquisador, o líder comunitário, o diretor de ONG etc.
Sob o tema “Depoimento Vivencial”, o debate de hoje une Esmeralda do Carmo Ortiz, que sobreviveu na rua durante oito anos (como narra no livro “Porque Não Dancei”); Yvonne Bezerra de Mello, presidente do Centro Brasileiro de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente e autora de “As Ovelhas Desgarradas e seus Algozes – A Geração Perdida nas Ruas”; e André du Rap, rapper e ator amador que depôs contra policiais no massacre do Carandiru (1992) sob ameaças de morte.
A mediação será feita pela psicóloga Ligia Daher. Criada em 1999, a Bendita Trupe vai ler trechos de obras dos participantes, além de depoimentos de vítimas.
Como em “Os Collegas”, a companhia. gera, desde o ano passado, um arquivo documental e ficcional em compasso colaborativo para a criação do texto e demais elementos da cena, desenvolvidos no teatro Ágora e na Oficina Cultural Oswald de Andrade.
A primeira fase do ciclo “Da Cidadania Ultrajada à Marginalidade”, em 2004, focou os debates no jornalismo investigativo e em áreas como cinema, literatura e música que abordassem violência e poder paralelo.
O projeto da Bendita Trupe foi selecionado pelo Programa Municipal de Fomento ao Teatro, cujos contemplados foram anunciados na semana passada.