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Folha de S.Paulo

Bendita Trupe promove debate sobre violência urbana na Fnac

2.8.2005  |  por Valmir Santos

São Paulo, quarta-feira, 02 de agosto de 2005 

TEATRO 
Companhia prepara “Na Linha de Fogo”, sua nova peça

VALMIR SANTOS
Da Reportagem Local 

Publicações dedicadas ao teatro contemporâneo ganharam novas edições no fim de 2005 e neste começo de ano no Rio, em São Paulo e em Belo Horizonte.
Iniciativa do grupo carioca Teatro do Pequeno Gesto, a revista “Folhetim” nº 22 é dedicada ao projeto “Convite à Politika!”, organizado ao longo do ano passado. Entre os ensaios, está “Teatro e Identidade Coletiva; Teatro e Interculturalidade”, do francês Jean-Jacques Alcandre. Trata da importância dessa arte tanto no processo histórico de formação dos Estados nacionais quanto no interior de grupos sociais que põem à prova sua capacidade de convivência e mestiçagem.
Na seção de entrevista, “Folhetim” destaca o diretor baiano Marcio Meirelles, do Bando de Teatro Olodum e do Teatro Vila Velha, em Salvador.
O grupo paulistano Folias d’Arte circula o sétimo “Caderno do Folias”. Dedica cerca de 75% de suas páginas ao debate “Política Cultural & Cultura Política”, realizado em maio passado no galpão-sede em Santa Cecília.
Participaram do encontro a pesquisadora Iná Camargo Costa (USP), os diretores Luís Carlos Moreira (Engenho Teatral) e Roberto Lage (Ágora) e o ator e palhaço Hugo Possolo (Parlapatões). A mediação do dramaturgo Reinaldo Maia e da atriz Renata Zhaneta, ambos do Folias.
Em meados de dezembro, na seqüência do 2º Redemoinho (Rede Brasileira de Espaços de Criação, Compartilhamento e Pesquisa Teatral), o centro cultural Galpão Cine Horto, braço do grupo Galpão em Belo Horizonte, lançou a segunda edição da sua revista de teatro, “Subtexto”.
A publicação reúne textos sobre o processo de criação de três espetáculos: “Antígona”, que o Centro de Pesquisa Teatral (CPT) estreou em maio no Sesc Anchieta; “Um Homem É um Homem”, encenação de Paulo José para o próprio Galpão, que estreou em outubro na capital mineira; e “BR3”, do grupo Teatro da Vertigem, cuja previsão de estréia é em fevereiro.
Essas publicações, somadas a outras como “Sala Preta” (ECA-USP), “Camarim” (Cooperativa Paulista de Teatro”) e “O Sarrafo” (projeto coletivo de 16 grupos de São Paulo) funcionam como plataformas de reflexão e documentação sobre sua época.
Todas vêm à luz com muito custo, daí a periodicidade bamba. Custo não só material, diga-se, mas de esforço de alguns de seus fazedores em fomentar o exercício crítico, a maturação das idéias e a conseqüente conversão para o papel -uma trajetória de fôlego que chama o público para o antes e o depois do que vê em cena.
Folhetim nº 22
Quanto: R$ 10 a R$ 12 (114 págs)
Mais informações: Teatro do Pequeno Gesto (tel. 0/xx/21/2205-0671; www.pequenogesto.com.br)
Caderno do Folias
Quanto: R$ 10 (66 págs)
Mais informações: Galpão do Folias (tel. 0/xx/11/3361-2223; www.galpaodofolias.com)
Subtexto
Quanto: grátis (94 págs; pedidos por e-mail: cinehorto@grupogalpao.com.br)
Mais informações: Galpão Cine Horto (tel. 0/xx/31/3481-5580; www.grupogalpao.com.br)

Depois de “Os Collegas” (2003), espetáculo que revisitou os bastidores do poder na era Collor (1990-92) -mão na luva para a fiada de corrupção rediviva-, a Cia.de Atores Bendita Trupe investiga outra violência endêmica no país, a criminal, que atinge morro e asfalto.

A segunda etapa do ciclo “Da Cidadania Ultrajada à Marginalidade – Os Protagonistas da História”, que começa hoje na loja Fnac da av. Paulista, colhe vivências e pareceres do poder, já mirando a peça “Na Linha de Fogo”, próxima montagem da companhia, prevista para novembro.

“O crime organizado atinge todas as estruturas da sociedade: da comunidade mais simples, onde se instala o traficante, aos poderes da República; passa pela polícia, pela justiça e pela política”, afirma a diretora Johana Albuquerque, 40, que assina a curadoria do ciclo.

“Existe violência na camada de baixo da sociedade civil e corrupção disseminada na camada de cima. As duas têm forte intercâmbio”, acredita a diretora.

Segundo Albuquerque, a idéia dos quatro encontros gratuitos, sempre às terças-feiras, é ouvir as diferentes versões dos protagonistas dessa história: a menina de rua, o policial, o sobrevivente do massacre, aquele que assiste às crianças e jovens carentes, o representante da segurança pública, o sociólogo, o antropólogo, o pesquisador, o líder comunitário, o diretor de ONG etc.

Sob o tema “Depoimento Vivencial”, o debate de hoje une Esmeralda do Carmo Ortiz, que sobreviveu na rua durante oito anos (como narra no livro “Porque Não Dancei”); Yvonne Bezerra de Mello, presidente do Centro Brasileiro de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente e autora de “As Ovelhas Desgarradas e seus Algozes – A Geração Perdida nas Ruas”; e André du Rap, rapper e ator amador que depôs contra policiais no massacre do Carandiru (1992) sob ameaças de morte.

A mediação será feita pela psicóloga Ligia Daher. Criada em 1999, a Bendita Trupe vai ler trechos de obras dos participantes, além de depoimentos de vítimas.

Como em “Os Collegas”, a companhia. gera, desde o ano passado, um arquivo documental e ficcional em compasso colaborativo para a criação do texto e demais elementos da cena, desenvolvidos no teatro Ágora e na Oficina Cultural Oswald de Andrade.
A primeira fase do ciclo “Da Cidadania Ultrajada à Marginalidade”, em 2004, focou os debates no jornalismo investigativo e em áreas como cinema, literatura e música que abordassem violência e poder paralelo.

O projeto da Bendita Trupe foi selecionado pelo Programa Municipal de Fomento ao Teatro, cujos contemplados foram anunciados na semana passada.

Jornalista e crítico fundador do site Teatrojornal – Leituras de Cena, que edita desde 2010. Escreveu em publicações como Folha de S.Paulo, Valor Econômico, Bravo! e O Diário, de Mogi das Cruzes, na Grande São Paulo. Autor de livros ou capítulos afeitos ao campo, além de colaborador em curadorias ou consultorias para mostras, festivais ou enciclopédias. Cursa doutorado em artes cênicas pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, onde fez mestrado na mesma área.

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