19.2.2022 | por Evaldo Mocarzel
A liberdade de criação e a memória das artes do corpo estão sendo ameaçadas pelo puritanismo que domina as plataformas digitais e as redes sociais.
De 2006 a 2018, fiz uma imersão profunda nos processos de criação colaborativa de diversos grupos de teatro de São Paulo, que gerou mais de 20 documentários, dezenas de registros de espetáculos, uma série televisiva com oito programas de 26 minutos cada um, para o Canal Brasil, intitulada Teatro sem fronteiras; a curadoria e a mediação de um ciclo de debates e uma mostra de filmes no Itaú Cultural sobre a efervescência e a vitalidade da cena paulistana contemporânea; e ainda uma tese de doutorado na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP) acerca das novas dramaturgias das companhias teatrais, criadas em processo colaborativo e que eu chamo de “dramáticas fraturadas”, fissuradas por estratégias de linguagem engendradas como uma espécie de travessia a irrupções do inesperado que costumamos chamar de “real”.
Leia mais30.7.2020 | por Valmir Santos
Para usar um termo corrente no meio audiovisual, a série Cena inquieta transmite uma sensação de delay. O efeito acústico atrasado em relação à imagem é lembrado porque o poder transformador da arte que emana de vozes e corpos nos dois primeiros episódios destoa do presente de um país em decomposição. A falta de sincronia não é gerada pelos idealizadores e realizadores dos 26 documentários em exibição no canal SescTV, desde a semana passada, mas pelo fracasso de parte da sociedade civil e dos representantes políticos em colocar de pé um sistema nacional de cultura, em sentido estrito, como previsto na Constituição de 32 anos atrás, ou ao menos não desmanchar o que as gestões de Gilberto Gil estruturaram minimamente no extinto Ministério da Cultura.
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