5.4.1998 | por Valmir Santos
O Diário de Mogi – Domingo, 05 de abril de 1998. Caderno A – 3
VALMIR SANTOS
São Paulo – Já virou bordão: “Einstein estava certo…”. Quase 43 anos depois da sua morte, em abril de 1955, a comunidade científica continua confirmando teses que o físico e matemático alemão elaborou em vida mas não dispunha de nenhum satélite potente para provar suas idéias. É por essas, e por outras, que o monólogo “Einstein – Um Ato de Gabriel Emanuel” ganha sabor especial.
O ator Carlos Palma interpreta o texto de Gabriel Emanuel – pseudônimo do canadense Gordon Wiseman. Seu primeiro contato com a peça foi em 1995, quando assistiu à montagem chilena. Em princípio, Palma pensava em adquirir os direitos do texto para outro intérprete. Mas acabou, ele mesmo, quarentão, vivendo Einstein aos 70 anos. O resultado é tocante.
Einstein está prestes a participar de mais um daqueles jantares protocolares. Entre os seus chamados pela secretária Helen, que nunca vem, o personagem rememora, aos poucos, sua infância e juventude. Conta, por exemplo, como a bússola que ganhou do pai aos 5 anos, acamado, influenciou seu pensamento pelo resto da vida. Da mesma forma, a paixão pela música foi herdada da mãe, que lhe deu um violino que, pouco tempo depois, já estava tocando.
A ironia lhe era frequente. “Como meu desenvolvimento era retardado, eu era um adulto com mente de criança”, tenta se explicar o personagem. Aos 9 anos, não prestava atenção em sala de aula e vivia isolado pelos cantos, sem falar com ninguém.
Num cenário simples, composto por uma escrivania, uma poltrona e uma lousa, Einstein/Palma intercala o presente com o passado, mesclando biografia e idéias. Judeu, ele cita sua mágoa com o regime nazista alemão, que praticamente o expulsou da pátria em plena juventude. O físico chegou a ser convidado para ser presidente do Estado de Israel, mas não aceitou.
O monólogo inclui até uma explicação didática da Teoria da Relatividade, que publicou aos 26 anos – o Nobel de Física viria 16 anos depois, em 1921. A peça acerta em equilibrar aula e drama. Ou seja, não é um espetáculo propriamente escolar. O que está sendo representado é a vida e o pensamento de uma dos gênios da humanidade. Suas inquietudes sobre razão e intuição, em que ambas não se excluem, podem ser encaradas como verdadeiras lições de vida.
Em sua caracterização, que inclui a oxigenação dos cabelos e bigode, com o benefício da calva já proeminente, Carlos Palma é a incorporação perfeita de Einstein. É rigoroso na composição dos gestos, do corpo arqueado, do andar vagaroso, do olhar que brilha ansioso por desvendar os mistérios do mundo. A direção de Sylvio Zilber também acentua o trabalho do ator, vencendo o desafio do monólogo com tranquilidade.