6.6.2007 | por Valmir Santos
São Paulo, quarta-feira, 06 de junho de 2007
TEATRO
De hoje a 23/6, evento paranaense recebe 42 espetáculos vindos de nove países
A companhia experimental Big Dance Theatre é uma das atrações inéditas; evento também inclui nova peça do Grupo Galpão
VALMIR SANTOS
Da Reportagem local
O espectador de Londrina, no norte paranaense, é ensinado a olhar o teatro e a dança com abertura e criticidade raramente encontradas em outras platéias do Brasil. São 39 anos de formação, desde a primeira edição do encontro universitário de grupos, no emblemático 1968, até a consolidação do Festival Internacional de Londrina, em 1988.
A edição do Filo que começa hoje e prossegue por 18 dias, até 23/6, é representativa dessa exigência na recepção. São 42 peças com os mais variados formatos: o drama clássico, o teatro de bonecos, de objetos, de sombras, de animação e de rua, passando por dança contemporânea, intervenção aérea, circo, mágica e música.
Quem abre o festival esta noite, no Teatro Ouro Verde, é a companhia colombiana de dança contemporânea L’Explose. Em “La Mirada del Avestruz”, nove personagens se desprendem de seus limites físicos e simbólicos num espaço cênico coberto de terra. A montagem dirigida por Tino Fernández quer remeter à dimensão da memória e à recuperação de uma história coletiva. A proposta é fazer uma reflexão sobre a realidade do país e seus entraves sociais e políticos.
Ao enfiar a cabeça no buraco, o avestruz foge de seus temores. É a metáfora da criação de Fernández para questionar formas de violência na atualidade -eixo efetivamente explosivo com o qual a L’Explose lida artisticamente desde sua fundação, em 1995.
A Colômbia é única representante da América do Sul, exceção óbvia do Brasil, o que contrasta com edições anteriores em que o Filo deu mais ênfase à produção vizinha. Entre os nove países da programação deste ano, prevalece o recorte europeu (Espanha, Suíça, França, Inglaterra, Bélgica e Rússia). A América do Norte é representada por México e EUA.
Pequenos milagres
É justamente americana uma das atrações inéditas em solo brasileiro: a companhia experimental Big Dance Theatre, nascida em Nova York em 1991. Assinada pela dupla Paul Lazar e Annie-B Parson, a coreografia “The Other Here” (o outro aqui) mescla dança, teatro e desenho visual com inspiração nas histórias clássicas do escritor japonês Masuji Ibuse (1898-1993).
Outro destaque é o grupo russo Derevo (árvore), fundado em 1988 pelo ex-integrante de banda de rock Anton Adassinski. Já conhecido de apresentações na própria Londrina e em São Paulo (por onde passa antes do Filo, de 14 a 17/6, no teatro Sérgio Cardoso), desta vez o coletivo traz “Ketzal” (mítica entidade voadora presente na tradição indígena mexicana), com a promessa de repetir impacto na expressão corporal.
A nova montagem do Grupo Galpão, “Pequenos Milagres”, também participa do Filo. E com a deferência de duas “pratas da casa” na criação, o diretor Paulo de Moraes (que fundou na cidade a Armazém Companhia de Teatro, em 1987, hoje radicada no Rio) e o poeta e dramaturgo Maurício Arruda Mendonça.
Ao todo, foram selecionados espetáculos de sete Estados. O diretor do festival, Luiz Bertipaglia, estima que as 102 atrações da grade, entre palco e rua, devam atrair cerca de 100 mil espectadores. O orçamento é estimado em R$ 1,8 milhão.