15.3.2023 | por Maria Fernanda Vomero
Um casal, Anne-Marie Roche e Michel Nollet, retorna à cidade onde viveu no noroeste da França para assinar o divórcio diante de um juiz. Ambos têm 35 anos ou mais, estão separados há um tempo. Hospedam-se no mesmo hotel em que moraram provisoriamente enquanto a casa que construíam não estava pronta. O reencontro é carregado de tensão, silêncios e ecos do passado; afinal, o retorno não é apenas a um lugar geográfico conhecido (a cidade, o hotel), mas também a um lugar afetivo reconhecível (o estado de um desejo intenso e fronteiriço à loucura), aos quais ambos ainda permanecem vinculados ─ há uns móveis da antiga casa guardados em um depósito, cujo destino precisa ser decidido, mas sobretudo há ainda aquela chama ardente que os uniu e depois os levou ao inferno e ao fracasso (os dois se surpreendem com a constatação quase palpável do sentimento). O espaço do reencontro ─ o impessoal saguão do Hôtel de France ─ é atravessado por luzes e sombras, criando um interessante jogo de exposição e ocultamento. O tempo do reencontro ─ a noite ─ é preenchido por um diálogo entremeado por silêncios e que, por isso, parece sempre em vias de se dissolver.
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