23.12.2004 | por Valmir Santos
São Paulo, quinta-feira, 23 de dezembro de 2004
TEATRO
Zé Celso lembra o assassinato do irmão, Luis Antônio, ocorrido há 17 anos
VALMIR SANTOS
Da Reportagem Local
Cada vez mais o diretor José Celso Martinez Corrêa tem a percepção de que o assassinato de seu irmão (com cerca de cem facadas, num apartamento no Rio), o também ator, diretor, autor e professor Luis Antônio Martinez Corrêa (1950-87), despertou a consciência da sociedade para a homofobia no Brasil.
“O bode que foi sacrificado é o bode que o Oficina canta nesses dias em sua lembrança. Hoje, em plena ditadura da violência assassina homofóbica, é importante realizar esse ato teatral público de portas abertas, sem cobrança de ingressos”, escreve Zé Celso, 67.
O grupo Oficina Uzyna Uzona incorporou ao seu calendário, como último ato do ano, a data e o horário do episódio para uma celebração a ser repetida hoje.
Corrêa foi assassinado em 23/12 de 1987, por volta das 14h30. É o horário em que está programado o ensaio aberto do início da Quarta Expedição em “A Luta”, a terceira parte de “Os Sertões”, obra de Euclydes da Cunha que o Oficina transcria para o teatro e deve ser completada em 2005. Trata-se do trecho em que o Exército ataca o Portal de Luzes das Cunañas, vegetação que protege o arraial de Canudos, para dar passagem à “matadeira” (apelido do Withworth, um canhão importado), que iria destruir o sino da Igreja Velha de Canudos, na Bahia.
“O Oficina faz um rito à desmartirização dos corpos e à alegria, marca essencial de seu trabalho teatral”, afirma Zé Celso. “É um dia para cada presente assassinar os desgostos e desamores, atravessar o ano cristão no rito pagão de fazer sangrar, abrir o fluxo, para dar passagem aos mais importantes sentimentos.”
Nascido em Araraquara (SP), como Zé Celso, Corrêa foi assistente do irmão em “Gracias Señor” (1972) e assinou a primeira direção naquele ano, com “O Casamento do Pequeno Burguês”, de Brecht, que fez turnê européia.
Destacou-se na pesquisa musical com os espetáculos “Theatro Musical Brazileiro – Parte 1 (1860/ 1914)”, de 1985, e “Parte 2 (1914/ 1945)”, de 1987. O site do grupo (www.teatroficina.com.br) estréia hoje a sua “TV Uzyna”.