25.10.2006 | por Valmir Santos
São Paulo, quarta-feira, 25 de outubro de 2006
TEATRO
Portuguesa Graça dos Santos participa de seminário na ECA-USP sobre teatro
Especialista no assunto, Santos faz parte de ciclo de debates que também lembra autores brasileiros como Guarnieri e Rangel
VALMIR SANTOS
Da Reportagem local
A rigor, não existe sociedade que tenha abolido a censura. Ela é mais óbvia em regimes totalitários e dissimulada sob democracias, quando o sufoco à liberdade de expressão tem a ver, por exemplo, com pretextos econômicos.
“Todo artista que quer fazer sua arte apela à autocensura em algum momento. Se for encenador, procura por uma produção rentável. O próprio Estado vai subsidiar determinadas peças em detrimento de outras”, afirma a professora do departamento de português da Universidade de Paris 10 (Nanterre), Graça dos Santos, que assina o parágrafo anterior.
Santos chegou a São Paulo nesta semana e fica até início de novembro para ministrar curso de difusão na USP: “Expressão e Interdição: Teatro e Censura em Portugal – Entre Sombra e Luz, um País de Paradoxos”.
A atividade integra o seminário internacional “A Censura em Cena: Interdição e Produção Artístico-Cultural”, que acontece de hoje a sexta-feira na ECA-USP (Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo). No curso, Santos fala das marcas que a censura imprime no teatro de Portugal, onde ela nasceu. São mais de quatro séculos de intervenções, a começar pelo período da Inquisição católica (1536-1820).
A censura recrudesceu entre 1932 e 1968, sob o regime salazarista (referência ao ditador António de Oliveira Salazar, 1889-1970). “Aí, pura e simplesmente foram retomados os velhos hábitos da censura inquisitorial”, diz Santos, há 40 anos radicada na França.
A abertura do seminário “A Censura em Cena” rende homenagem a nomes brasileiros ligados à resistência contra a censura: o diretor Flávio Rangel (1934-1988), o ator e dramaturgo Gianfrancesco Guarnieri (1934-2006) e o crítico e tradutor Miroel Silveira (1914-88). A escritora Renata Pallottini fará uma conferência.
Foi o próprio santista Silveira quem, em 1985, último ano da ditadura militar, resgatou do prédio da Secretaria da Segurança Pública de SP, no centro, onde funcionava o Departamento de Diversões Públicas, os cadernos de capa dura com processos de 1927 a 1968, quando o regime federalizou os mecanismos de controle.
Amanhã e sexta, participam de encontros abertos ao público pesquisadores como Adriana Florent (Universidade de Paris 8), Isabel da Cunha (Universidade de Coimbra) e Boris Kossoy (USP); e personalidades do teatro, como a historiadora Maria Thereza Vargas e os diretores César Vieira (Teatro União e Olho Vivo) e Sérgio de Carvalho (Cia. do Latão).
Estão previstos ainda lançamentos de dois livros, apoiados pela Fapesp, no MAC (Museu de Arte Contemporânea), às 18h de amanhã. O primeiro é “A Censura em Cena: Teatro e Censura no Brasil” (ed. Edusp/Imprensa Oficial, 296 págs., R$ 80), de Maria Cristina Castilho Costa. Traz os primeiros resultados do estudo científico, sociológico e histórico do Arquivo Miroel Silveira, composto por mais de 6.000 processos de censura teatral.
O segundo livro é “Censura e Comunicação: O Circo-Teatro na Produção Cultural Paulista de 1930 a 1970” (ed. Terceira Margem, 244 págs., R$ 30), com textos de vários autores e organização de Maria Cristina Castilho Costa.
A obra expõe como o híbrido palco-picadeiro representou um apoio indispensável ao desenvolvimento da dramaturgia e da encenação nas primeiras décadas do século passado.