11.9.2006 | por Valmir Santos
São Paulo, segunda-feira, 11 de setembro de 2006
TEATRO
Atração do 13º Porto Alegre em Cena, versão de “O Pequeno Polegar” é assistida em camas individuais
VALMIR SANTOS
Enviado especial a Porto Alegre
Se algum espectador dormir, não quer dizer que o espetáculo seja ruim. Pelo menos não no caso de “Buchettino”, que a companhia italiana Societas Raffaello Sanzio estréia hoje no 13º Porto Alegre em Cena, o festival internacional de artes cênicas que vai até domingo.
Crianças ou adultos deitam-se em 50 camas individuais para ouvir e imaginar a história de “O Pequeno Polegar”, como se fossem ninar. “É um espetáculo em que não se vê, só se sente”, diz o integrante da companhia Federico Lepri, 32, um dos técnicos responsáveis pelos efeitos sonoros.
Enquanto a atriz Monica Demuru, na pele de Mãe, narra (em português) a lenda européia na versão do francês Charles Perrault (1628-1703), do lado externo do espaço cenográfico retangular chegam as sonoridades, em percussão ou playback, que reforçam a atmosfera de suspense sobre as aventuras do personagem-título, caçula de sete irmãos. Eles atravessam perigos num bosque, com direito a aroma de eucalipto, e são ameaçados por lobos, morcegos e um ogro.
Uma das companhias conceituais mais respeitas da Europa, a Societas Raffaello Sanzio nasceu em 1981, na cidade de Cesena (norte da Itália), iniciativa de Chiara Guidi e dos irmãos Claudia e Romeo Castellucci, então jovens estudantes embevecidos pelo signo das artes visuais e sob contaminação absoluta de outras áreas, como a música, a ópera, a ciência, a medicina, a teologia etc. A companhia passou por São Paulo nos anos 90, inclusive com uma versão de “Hamlet”.
Grupo lituano
Em sua primeira semana, um dos destaques internacionais do festival, além da passagem da companhia da coreógrafa alemã Pina Bausch, foi o grupo lituano Meno Fortas, dirigido por Eimunthas Nekrosius.
A versão de “Othelo”, de Shakespeare, apresentada até ontem no teatro São Pedro, dura cerca de quatro horas. Na concepção de Nekrosius, Othelo, Iago e Desdêmona são personagens que têm pesos equilibrados em meio ao torvelinho de inveja e ciúmes em que são enredados. A metáfora da água surge o tempo todo, referência à ilha de Chipre onde se passa parte da ação. A cenografia, os adereços, os objetos e a música transportam o público para uma embarcação.
Nekrosius, que já havia mostrado em Porto Alegre cinco anos atrás seu “Hamlet”, em “Othelo” revela que não sucumbe ao maneirismo visual no seu modo de fazer teatro. Ao contrário, é um apaixonado diretor de atores como Vladas Bagdonas (Othelo), Rolandas Kazlas (Iago) e Egle Spokaite (Desdêmona).
Num momento em que o Brasil recebe o projeto Estação de Teatro Russo, circulação de cinco espetáculos daquele país, é pena que Nekrosius e Meno Fortas, que vêm de uma das repúblicas do Mar Báltico que pertenciam à ex-União Soviética, ainda sejam desconhecidos em São Paulo e Rio.
13º Porto Alegre em Cena
Quando: 5 a 17/9
Quanto: R$ 20. Mais informações pelo tel. 0/xx/51/ 3235-2995 ou através do site www.poaemcena.com.br