2.1.2008 | por Valmir Santos
São Paulo, quarta-feira, 02 de janeiro de 2008
TEATRO
Sesi e British Council lançam núcleo em SP que, a partir de hoje, recebe textos de teatro para análise e futura montagem
Núcleo de Dramaturgia forma primeira turma neste ano; inspiração vem do Royal Court Theatre, do qual Noel Greig foi orientador
VALMIR SANTOS
Da Reportagem Local
Escritores aprendem muito falando com (e ouvindo) outros escritores. É essa percepção elementar, mas pouco praticada, que o dramaturgo inglês Noel Greig gosta de reforçar logo no primeiro dia de papo com autores iniciantes em projetos de formação de que participa dentro e fora de seu país.
“Se alguém quer escrever para teatro, precisa se envolver com esse fazer, não importa se como ator, diretor, faxineiro, pintor de cenário ou como ouvinte durante os ensaios. Teatro é uma forma de arte colaborativa”, disse Greig à Folha, em outubro, reproduzindo conteúdo de uma das aulas do work-shop que ministrou em São Paulo para duas turmas de autores “novos” e “emergentes”.
Greig deu o pontapé na parceria do Sesi (Serviço Social da Indústria) com o British Council (organização que promove a cultura britânica pelo mundo) para a criação do Núcleo de Dramaturgia, canal de estímulo continuado à escrita teatral. A inspiração vem do The Royal Court Theatre, o tradicional centro londrino de fomento ao autor contemporâneo.
A partir de hoje (e por prazo indeterminado), o núcleo recebe textos de maiores de 16 anos que jamais foram publicados ou encenados. As peças, ou esboços, serão avaliadas por uma equipe coordenada pela professora de literatura Munira Mutran (USP) e devolvidas em até três meses.
Os interessados devem preencher a ficha de inscrição no sitewww.sesisp.org.br/centrocultural. Na página estão as instruções e o endereço para o qual devem ser enviado um ato de uma peça com no mínimo 15 e no máximo 20 laudas (21 mil a 28 mil caracteres). Quem demonstrar potencial de desenvolvimento fará parte da primeira turma do núcleo, a ser estabelecida ainda neste ano.
Autores jovens
Com 40 anos de carreira e mais de 60 peças escritas, Greig, 63, foi um dos orientadores do Royal Court. Ele se diz acostumado a formar gente na faixa de até 25 anos, como um grupo de ascendência asiática com o qual trabalha atualmente, no leste de Londres, numa adaptação de “Romeu e Julieta”, de Shakespeare.
“A vantagem de um espaço fomentador é que os autores têm chance de conhecer todo o processo de produção”, diz Greig. A iniciativa recém-criada em São Paulo prevê montagem dos melhores textos a partir de 2009. O Sesi capitaneou as duas edições da Mostra de Dramaturgia Contemporânea (2002 e 2003), que reaqueceram a área em nível nacional.
Greig diz que gostou da convivência de quatro dias com 24 moças ou rapazes que participaram do workshop. “Eles foram criativos, abertos a novas idéias e demonstram desejo de aprender, o que facilitou bastante o meu trabalho”, afirma.
Nem todos eram do meio teatral. Havia advogados, jornalistas. “Gosto de trabalhar com pessoas de outros campos. É bom trabalhar tanto com gente mais jovem como lidar com quem já traz bagagem de vida.”
Orientador de dramaturgos inovadores, como o britânico Martin Crimp, montado há pouco em Curitiba e São Paulo, Greig concilia o conteúdo da estrutura clássica da escrita para teatro, desde Aristóteles, com o princípio da ruptura e do experimento.
“Sarah Kane e Samuel Beckett conheciam bem os cânones da dramaturgia. O clássico e o contemporâneo não estão separados”, diz.