29.9.2005 | por Valmir Santos
São Paulo, quinta-feira, 29 de setembro de 2005
TEATRO
“Satyrianas – Uma Saudação à Primavera” comemora 16 anos da companhia com espetáculos e atividades diversas
VALMIR SANTOS
Da Reportagem Local
Numa conferência realizada no Centro Cultural São Paulo, em 2001, durante o ciclo internacional “O Teatro e a Cidade”, o dramaturgo e ensaísta francês Jean-Pierre Sarrazac chamou de “desencantamento ativo” o fiel da balança entre razão e utopia.
Quem sabe, um pouco desse “desencantamento ativo” diante do cenário político brasileiro é o que também vai mover artistas e público durante as “Satyrianas -°Uma Saudação à Primavera”.
Das 18h de hoje à meia-noite de domingo, o evento que comemora o 16º aniversário da Cia. de Teatro Os Satyros prevê atividades ininterruptas na praça Franklin Roosevelt, bairro da Consolação.
Espetáculos teatrais, leituras dramáticas, intervenções, shows, debates e cafés literários vão ocupar os espaços 1 e 2 dos Satyros, bem como as calçadas e ruas da praça onde o grupo firmou residência em 2000.
Desde então, a Roosevelt converteu-se em personagem. O universo das prostitutas e travestis foi absorvido pela dramaturgia (como “A Vida na Praça Roosevelt”, da alemã Dea Loher).
E a praça, quem diria, perdeu a fumaça do medo que a encerrava por estigma impingido aos freqüentadores e moradores desde os anos 80. Eles não foram embora, convivem com vizinhos, poetas, músicos e atores. Agora, os artistas é que insinuam uma “estética marginal” com suas criações.
A novidade das Satyrianas deste ano é o projeto “Uroborus”, no qual 78 autores criam textos para 156 intérpretes ao longo das 78 horas do evento.
O título remete à imagem mitológica do monstro que se devora pela própria cauda, também explorado pela magia medieval como símbolo de vida e morte, segundo o dicionário “Houaiss”.
Foi criada uma comunidade no Orkut, a rede de relacionamentos, em busca de frases e passagens de textos, clássicos ou contemporâneos, para a composição de uma “peça definitiva” que se pretende sem lugar ou tempo fixos.
Idealizado pelos Satyros, o projeto tem coordenação do dramaturgo e crítico da Folha, Sergio Salvia Coelho, que define o resultado como uma “rapsodomancia para a eterna ressurreição do teatro”, conforme a versão desta primavera. Rapsodomancia é arte de adivinhar o futuro através de passagens tiradas aleatoriamente das obras de um poeta. “Uroborus” inicia hoje, com os atores Dalton Vigh e Denise Weinberg, e termina no domingo, com Bete Coelho e Pascoal da Conceição.
A maratona cultural tem largada às 18h e contará com representantes dos grupos Doutores da Alegria e Parlapatões, além do maestro Amalfi e sua Big Band Canella, com 30 músicos.