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Crítica

Camille e Rodin

23.8.2012  |  por Valmir Santos

Os atores Leopoldo Pacheco e Melissa Vettore

Os atores Leopoldo Pacheco e Melissa Vettore

Espetáculo Camille e Rodin tem interpretações quase protocolares e fica aquém da inquietude dos escultores franceses, protagonistas de uma trágica história de amor

Escolhido para a reabertura do grande auditório do Museu de Arte de São Paulo, o Masp, o espetáculo Camille e Rodin coleciona passagens dos 15 anos da emblemática história de amor entre os escultores franceses Camille Claudel (1864-1943) e Auguste Rodin (1840-1917). Quando chega para trabalhar no ateliê do já conceituado artista e professor, então às voltas com a encomenda da obra que talharia por longo tempo, Porta do Inferno, ela conta 19 anos e ele, 43. Apaixonam-se, sublinham os desafios de esculpir e vão negociando seus ciúmes profissionais e amorosos (o mestre é casado). Em paralelo, piora o quadro mental de Camille, que acaba sendo internada numa instituição psiquiátrica, onde permanece por três décadas, até a morte.

Quando se narra a história de mulheres e homens notáveis, em que arte e vida se misturam com rara intensidade, as expectativas dobram, inevitavelmente. Somos impelidos pela esperança de transcendência no encontro com tais relatos, pois sempre haverá mais mistérios entre o céu e aquelas personalidades do que o interlocutor possa imaginar. No entanto, para retratar a relação do turbulento casal de escultores, o espetáculo contenta-se em reproduzir o roteiro já bastante conhecido das simbioses e dissensões artísticas e afetivas que culminaram no surto de Camille. A montagem é elementar e fica aquém da inventividade que o encontro de dois gênios no palco de um museu deixaria supor.

PORTAL DE CORES

A dramaturgia do paulistano Franz Keppler soa enciclopédica, prefere respostas a perguntas, não inquieta. Um tanto expositivos, os diálogos impedem que se ouça a voz do autor. As interpretações parecem engessadas. Melissa Vettore e Leopoldo Pacheco são quase protocolares ao discorrer sobre as veemências do coração e do ofício dos artistas, que, em seu tempo, eram ousados e passionais. Melissa ainda apresenta uma estridência desmesurada, sem espaço para colocar em relevo as sutilezas de Camille, que na peça surge convulsionada do início ao fim, com mãos sobrando para lá e para cá.

Por outro lado, faltou mão ao diretor Elias Andreato. Ele, que já atuou justo em monólogos inspirados na vida do pintor holandês Vincent van Gogh e do escritor francês Antonin Artaud, não conseguiu tornar as ações mais corporais e presentes. O único gesto que transcende é o da cenografia de Marco Lima, reforçada pelo desenho de luz de Wagner Freire. Juntos, eles elaboraram um portal de cores e formas angulares como os bons escultores gostam de enxergar nas pedras.

A peça:

Camille e Rodin. De Franz Keppler. Direção de Elias Andreato. Com Leopoldo Pacheco e Melissa Vettore. Masp, grande auditório (av. Paulista, 1578, Bela Vista, SP, tel. 0++/11/3251-5644). 6ª e sáb., às 21h; dom., às 19h30. Até 26/8. De R$ 20 a R$ 30.

(texto originalmente publicado na edição deste mês da revista Bravo!)

Jornalista e crítico fundador do site Teatrojornal – Leituras de Cena, que edita desde 2010. Escreveu em publicações como Folha de S.Paulo, Valor Econômico, Bravo! e O Diário, de Mogi das Cruzes, na Grande São Paulo. Autor de livros ou capítulos afeitos ao campo, além de colaborador em curadorias ou consultorias para mostras, festivais ou enciclopédias. Cursa doutorado em artes cênicas pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, onde fez mestrado na mesma área.

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