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O Diário de Mogi

Parlapatões levam o circo para o palco

13.9.1992  |  por Valmir Santos

O Diário de Mogi – Domingo, 13 de setembro de 1992.  Caderno A – capa

VALMIR SANTOS 

 

Qual foi a última vez que você assistiu a um espetáculo circense, com a constelação de personagens de praxe, como o palhaço, o trapezista, o equilibrista, o domador de leões e o atirador de facas? Certamente, não faz pouco tempo. A massificação da TV, dos jogos eletrônicos e a dissolução das tradicionais famílias de circo, entre outros fatores, estão contribuindo para o desaparecimento da milenar arte do picadeiro. Hoje, raros são os circos que resistem ao furacão da mídia. Um dos efeitos imediatos deste “circocídio” é a transposição de espetáculos de armação de lona para o teatro do concreto.

Formada em 91, a Companhia Parlapatões, Patifes e Paspalhões é um exemplo do que ocorre nos últimos anos. Seus dois únicos integrantes, os atores Hugo Possolo e Alexandre Roit, que passaram pelo Circo Escola Picadeiro, na Capital, estão em cartaz com duas peças. “Nada de Novo” e o infantil “Bem Debaixo do Seu Nariz” foram montadas a partir das apresentações em ruas e praças, devidamente recheadas com elementos circenses.

Em “Nada de Novo”, Possolo e Roit apresentam peças curtas, esquetes cômicas, evoluções com bastões, bolas a argolas. A relação objeto-ator é perfeita. Inserem textos de escritores famosos, como “O Primeiro Milagre”, de Dario Fo; “Destino”, de Millôr Fernandes; e “Amala”, de Groucho Marx. Tudo isso com direito a uma intrépida mímica, feita por Possolo, de uma história mundo-cão narrada com a voz in off de Gil “Aqui Agora” Gomes.

“Bem Debaixo do Seu Nariz” também investe no circo, desta vez para um público mais suscetível ao riso: as crianças. A peça começa logo na entrada do teatro, quando a dupla brinca com os filhinhos e seus paizinhos. Como no espetáculo adulto, é formada uma roda no palco, desenhada por uma corda. É a simulação do picadeiro. Os pimpolhos sobem no palco e ficam sentados, em círculo, acompanhando as peripécias de Roit e Possolo.

Os Parlapatões, Patifes e Paspalhões – nome que provoca um ponta de humor só na pronúncia – nos faz lembrar da serragem do picadeiro, da lantejoula da partner que acompanha o mágico retirando o coelhinho da cartola, da arquibancada de madeira lotada de olhos atentos aos passos do equilibrista no arame. Enfim, resgata o instante mágico do circo até o tempo de fecharem as cortinas e a realidade se surgir novamente: sem circo.

Nada de Novo – Com Hugo Possolo e Alexandre Roit. Segunda, terça e quarta, 21h30. Ingresso: Cr$ 15 mil. Centro Cultural São Paulo (rua Vergueiro, 1000, tel. 278-9787 / 2704577). Até 29 de setembro. Bem Debaixo do Seu Nariz – Sábado e domingo, 16h. Ingresso: Cr$ 8 mil. Teatro Alfredo Mesquita (avenida Santos Dumont, 1770, tel. 299-3657). Até 1º de novembro.

Jornalista e crítico fundador do site Teatrojornal – Leituras de Cena, que edita desde 2010. Escreveu em publicações como Folha de S.Paulo, Valor Econômico, Bravo! e O Diário, de Mogi das Cruzes, na Grande São Paulo. Autor de livros ou capítulos afeitos ao campo, além de colaborador em curadorias ou consultorias para mostras, festivais ou enciclopédias. Cursa doutorado em artes cênicas pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, onde fez mestrado na mesma área.

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