Menu

Folha de S.Paulo

“Satyrianas” instaura “fuso” cênico-literário

30.9.2004  |  por Valmir Santos

São Paulo, quinta-feira, 30 de setembro de 2004

TEATRO 
Grupo dá início hoje ao evento de 78 horas de atividades em comemoração dos seus 15 anos de existência

VALMIR SANTOS
Da Reportagem Local 

Mal terá passada a alvorada, nas primeiras claridades de sexta-feira, e virá o sarau com textos do marquês de Sade (“Os 120 Dias de Sodoma”, “Justine”).

Na madrugada de domingo, o casal de velhinhos de Eugène Ionesco (“As Cadeiras”), isolado num farol, aguardará em vão os convidados aos quais pretende transmitir mensagem de salvação da humanidade. Metáfora a calhar com as horas que antecedem a visita obrigatória às urnas.

A 15ª edição do evento “Satyrianas – Uma Saudação à Primavera” instaura “fuso horário” à parte na praça Roosevelt, no centro, sede da cia. Os Satyros. De hoje a domingo, são estimadas pelo menos 78 horas de atividades, dia e noite, instadas a comemorar os 15 anos da trupe e instigar reflexões (inf.: site www.satyros.com.br).

Além do teatro (leituras e encenações), haverá simbiose com poesia e música. A abertura, hoje, às 18h, reativa a rádio Livre Satyros (em 88,7 FM), que transmitirá o evento. Na seqüência, será encenada “A Voz do Povo É a Voz de Zé”, a partir dos contos do pernambucano Marcelino Freire, com direção de Alberto Guzik.

Freire e outros escritores ou poetas participarão de “cafés literários” e “crepúsculos poéticos”. Entre eles: Marcelo Mirisola, Nelson de Oliveira, Evandro Ferreira, Juliano Garcia Peçanha, João Silvério Trevisan, Ronaldo Bressane, Joca Reiners Terron, Fábio Weintraub e Glauco Mattoso.

O poeta Ademir Assunção emendará versos ao vozeirão do cantor e compositor Edvaldo Santana, parceiro recorrente.

A senhora praça Roosevelt, convertida em personagem nos últimos tempos, mobiliza mesas-redondas sobre o amor público e privado ou, ainda, sobre a paixão pela arte do teatro.

O dramaturgo Sergio Salvia Coelho, crítico da Folha, estréia no Satyrianas “Amor: Modo de Usar” (sáb. e dom., às 23h).

Coelho também dirige o solo interpretado por Pagu Leal, que inspira o enredo: atriz curitibana chega a São Paulo para uma palestra definitiva sobre o amor “e esclarece aquela questão que nos intriga a todos, ou seja, como a inescrutabilidade da referência está implícita no relativismo cognitivo das teorias do holismo semântico”. Segundo o autor, a confusão definitiva de todas as certezas é proposital.

Ao todo, serão lidas ou encenadas duas dezenas de peças, como “Transex”, “A Filosofia na Alcova”, “O Encontro das Águas” (as três já em cartaz), “O Homem que Queria Ser Rita Cadillac”, “Análise Comportamental e Crítica da Música Eduardo e Mônica” e “Natureza Morta”.

No domingo, haverá homenagem ao ator e dramaturgo Gianfrancesco Guarnieri, 70, de “Eles Não Usam Black-Tie”, “Gimba”, “A Semente” e “Um Grito Parado no Ar”, entre outras peças que reafirmaram a dramaturgia nacional nos anos 50, 60 e 70.

Jornalista e crítico fundador do site Teatrojornal – Leituras de Cena, que edita desde 2010. Escreveu em publicações como Folha de S.Paulo, Valor Econômico, Bravo! e O Diário, de Mogi das Cruzes, na Grande São Paulo. Autor de livros ou capítulos afeitos ao campo, além de colaborador em curadorias ou consultorias para mostras, festivais ou enciclopédias. Cursa doutorado em artes cênicas pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, onde fez mestrado na mesma área.

Relacionados