Folha de S.Paulo
3.1.2005 | por Valmir Santos
São Paulo, segunda-feira, 03 de janeiro de 2005
TEATRO
Pesquisadora Maria Cecília Garcia aponta “tempos sombrios” e falta de diálogo na crítica brasileira contemporânea
VALMIR SANTOS
Da Reportagem Local
Nos últimos meses, a crítica teatral perdeu espaços significativos na imprensa paulista. Desapareceu das páginas do “Jornal da Tarde” (Alberto Guzik e Sábato Magaldi) e do “Diário de S. Paulo” (Aguinaldo Ribeiro da Cunha).
É nesse contexto de crise na cena contemporânea que a pesquisadora e dramaturga Maria Cecília Garcia apresenta suas “Reflexões sobre a Crítica Teatral nos Jornais°- Décio de Almeida Prado e o Problema da Apreciação da Obra Artística no Jornalismo Cultural” (editora Mackenzie).
Antes de discorrer sobre o enunciado do subtítulo e, por extensão, objeto central do livro, a autora cuida de introduzir a história da crítica teatral no Brasil, desde meados do século 19 até o início do 20, passando pelos escritores José de Alencar, Machado de Assis e Álvares de Azevedo.
Chega à reafirmação do ofício entre as décadas de 40 e 60 (Alcântara Machado, Brício Abreu, Oswald de Andrade, Anatol Rosenfeld, Almeida Prado, Magaldi, Barbara Heliodora etc). Apesar do lastro, com transformações que deram na moderna crítica brasileira, a autora aponta os “tempos sombrios” de uma época, a atual, em que o “espírito crítico” é quase abandonado.
Garcia, 53, quer “refletir sobre a crítica teatral como gênero jornalístico, sem nenhuma pretensão de esgotar o assunto, mas com o objetivo declarado de recuperar essa crítica como elemento fundamental de desenvolvimento do teatro e da imprensa, e de contraponto ao avanço da mercantilização da arte”. A crítica, atesta, precisa recuperar o seu papel.
O livro faz um apanhado da teoria crítica: a ambição científica na linguagem estruturalista do francês Roland Barthes; a perspectiva sócio-política na dialética do alemão Bernard Dort; e a pluralidade de vozes e consciências na polifonia do russo Mikhail Bakhtin.
Garcia afirma que monologismo é mal do qual Almeida Prado (1917-2001) não sofreu no período em que escreveu para “O Estado de S. Paulo” (1947-68).
“Desde suas primeiras críticas, escritas no final dos anos 1940, ele deu mostras de uma profunda vocação para o diálogo; diálogo entre artistas e críticos, diálogo entre correntes estéticas, aparentemente confrontadas, diálogo entre jornal e público leitor”, escreve. “Essa postura dialógica acabou por configurar-se em um estilo.”
Professora, jornalista, dramaturga e também ex-crítica teatral da Folha, no início dos anos 1980, Garcia publica no apêndice longa entrevista que fez com Almeida Prado em 1998.
Jornalista e crítico fundador do site Teatrojornal – Leituras de Cena, que edita desde 2010. Escreveu em publicações como Folha de S.Paulo, Valor Econômico, Bravo! e O Diário, de Mogi das Cruzes, na Grande São Paulo. Autor de livros ou capítulos afeitos ao campo, além de colaborador em curadorias ou consultorias para mostras, festivais ou enciclopédias. Cursa doutorado em artes cênicas pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, onde fez mestrado na mesma área.