Folha de S.Paulo
3.2.2005 | por Valmir Santos
São Paulo, quinta-feira, 03 de fevereiro de 2005
TEATRO
VALMIR SANTOS
Da Reportagem Local
Durante o primeiro semestre de 2005, com possível renovação para o segundo, o Teatro de Arena Eugênio Kusnet, no centro, será ocupado em conjunto pela Cia. Andarilhos, pelo Núcleo Cênico Arion e pelo Canhoto Laboratório de Artes da Representação.
Eles venceram edital da Funarte, órgão do Ministério da Cultura que administra o espaço (a ocupação não prevê verba para montagens, apenas funcionários para limpeza, segurança e técnica). Concorreram 11 projetos.
A narrativa épica, aquela que agrega ponto de vista ao espectador em relação à fábula ou à encenação, e os autores latino-americanos contemporâneos, cuja maioria é ilustre desconhecida nos palcos brasileiros, compõem a face mais visível do projeto batizado de “3 em 1: Um por (Todos)2 por Hum!!!”.
A equação “mosqueteira” (à la Alexandre Dumas) encontraria solução na disponibilidade de um teto comum para os proponentes desenvolverem suas pesquisas.
“É aquele velho problema: como desenvolver um projeto estético, com profundidade, sem o luxo de cometer erros?”, diz o diretor Alexandre Mate, 50, do Canhoto Laboratório.
A interlocução é alento. “Cada grupo tem um perfil, uma linguagem, mas estabelecerá troca com a estética do outro”, diz a atriz, diretora e dramaturga Vanessa Valente, 32, da Andarilhos (1997).
O “3 em 1” começa no próximo final de semana com ensaios abertos de “Imaginários”, espetáculo da Andarilhos, que tem estréia oficial no dia 13 deste mês.
Texto e direção de Valente, “Imaginários” trata da caminhada cigana de contadores de história em meio a personagens do universo fantástico. “Somos contadores de história além de atores. O espetáculo “conversa” olho no olho”, diz a diretora.
No dia 5/3, o Canhoto estréia “Ubu Presidente”, do peruano Juan Larco (1928), uma “bufonaria continental”, diz o autor, sobre a trajetória do personagem-título em Chipaltenango, uma republiqueta latino-americana.
Larco concebe uma parábola política do “Ubu Rei”, o clássico do francês Alfred Jarry (1873-1907). A tradução é de Hugo Villavicenzio com direção de Mate.
O Núcleo Cênico Arion, terceiro proponente do projeto (em atividade desde 1995), reestréia “Senhorita Danzer”, do alemão Marius von Mayenburg, no dia 18/3.
Bernadeth Alves dirigiu e co-traduziu (com André Itaparica) a peça sobre uma família de classe média baixa que teve os três filhos enviados pelos vizinhos ao serviço social estatal sob alegação de maus-tratos.
A programação do semestre inclui ainda grupos convidados, como Cartel de Teatro, Artehúmus de Teatro, Teatro de Orelhas e Piap (grupo de percussão do Instituto de Artes da Unesp). Também serão realizados, em datas a definir, um fórum sobre teatro latino-americano e oficinas.
Já a proposta do “pague quanto puder”, adotada pela Cia. Livre durante sua ocupação no ano passado (no projeto “Arena Conta Arena 50 Anos”), foi suspensa pela Funarte “por motivos administrativos e prestação de contas junto a órgãos federais”.
Originalmente, o “3 em 1” queria seguir o exemplo da Cia. Livre. Agora, o ingresso para os espetáculos custa entre R$ 5 a R$ 15.
Jornalista e crítico fundador do site Teatrojornal – Leituras de Cena, que edita desde 2010. Escreveu em publicações como Folha de S.Paulo, Valor Econômico, Bravo! e O Diário, de Mogi das Cruzes, na Grande São Paulo. Autor de livros ou capítulos afeitos ao campo, além de colaborador em curadorias ou consultorias para mostras, festivais ou enciclopédias. Cursa doutorado em artes cênicas pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, onde fez mestrado na mesma área.