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Folha de S.Paulo

Teatro incentivou formação humanista

3.4.2005  |  por Valmir Santos

São Paulo, quinta-feira, 03 de abril de 2005

TEATRO 

VALMIR SANTOS
Colaboração para Folha

Karol Wojtyla não chegou a projetar seu nome no teatro polonês, como o fizeram os conterrâneos Tadeuz Kantor (1915-1990), encenador do lendário grupo Cricot 2 Theater, e Jerzy Grotowski (1933-1999), teórico que desenvolveu o chamado “teatro pobre”, método baseado no trabalho do ator. Mas o teatro exerceu influência decisiva em sua formação humanista.

De 1935, quando participa das primeiras montagens amadoras na escola, até 1943, quando sobe ao palco pela última vez, ele experimentou as funções de ator, diretor, dramaturgo e cenógrafo. No ginásio, no vilarejo de Wadowice, integrava um grupo de alunos que recitava poetas românticos e interpretava canções populares.

Era tão dedicado que logo assumiu a direção e cenografia dos espetáculos. Em um deles, “Balladyna”, do dramaturgo polonês Juliusz Slowacki (1809-1849), acumulou também a função de ator, substituindo um colega dois dias antes da estréia. Viveria ainda outros personagens, como o circunspecto Rei em “Sigismundus Augustus”, de Wyspianski, e o suicida Haemon, filho de Creonte em “Antígona”, de Sófocles.

Em 1938, transferido com a família para o centro de Cracóvia, ingressa no Studio 39, grupo de pesquisa teatral comandado pelo encenador Tadeuz Kudlinski.

A maior influência nas artes cênicas, porém, foi Mieczyslaw Kotlarczyk, o diretor que desenvolveu a teoria dramática da “palavra viva”, com a qual Wojtyla aprendeu que “o ator precisa seguir o verso e não abafá-lo na tragédia”, recurso para gravar seu personagem na percepção do espectador.

Kotlarczyk fundou em 1941 o teatro Rapsódico, que tinha em Wojtyla um dos seus participantes mais ativos.

A primeira peça encenada foi “Rei Espírito”, do romântico Slowacki, seguida por três dramas: “Jó”, “Jeremias” e “David”, poemas inspirados em personagens bíblicos. A última atuação de Wojtyla foi em 1943. “Samuel Zborowski”, mais uma vez de Slowacki, era encenada clandestinamente nos porões das residências de amigos, por causa da presença dos nazistas em Cracóvia.

Jornalista e crítico fundador do site Teatrojornal – Leituras de Cena, que edita desde 2010. Escreveu em publicações como Folha de S.Paulo, Valor Econômico, Bravo! e O Diário, de Mogi das Cruzes, na Grande São Paulo. Autor de livros ou capítulos afeitos ao campo, além de colaborador em curadorias ou consultorias para mostras, festivais ou enciclopédias. Cursa doutorado em artes cênicas pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, onde fez mestrado na mesma área.

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