Folha de S.Paulo
17.12.2005 | por Valmir Santos
São Paulo, segunda-feira, 05 de dezembro de 2005
TEATRO
Grupos cobram ações do Ministério da Cultura e Estados
VALMIR SANTOS
Da Reportagem Local
Um instantâneo por algumas capitais brasileiras revela que a classe teatral, substancialmente os grupos, desempenha papel decisivo na reivindicação de políticas públicas para a cultura.
Nas últimas duas semanas, formou-se involuntariamente uma espécie de mobilização em cadeia.
Em Belo Horizonte, abre hoje a segunda edição do Redemoinho -Rede Brasileira de Espaços de Criação, Compartilhamento e Pesquisa Teatral.
Durante três dias, o Galpão Cine Horto, centro cultural do grupo Galpão, recebe representantes de 70 grupos -31 a mais em relação a 2004- vindos de 11 Estados.
Em pauta, “a permanente crise da cultura e a omissão dos governos federal, estaduais e municipais no apoio e manutenção dos espaços”.
Mesas-redondas e palestras serão abertas ao público. Entre os convidados, o presidente da Funarte (Fundação Nacional de Arte), Antônio Grassi, representando Ministério da Cultura.
Na última sexta, o ministro da Cultura, Gilberto Gil, disse que não prioriza o “teatro dos consagrados”, em resposta às críticas dos atores Paulo Autran (“Acho que ninguém da classe teatral sabe o ele [Gil] fez”) e Marco Nanini (“[O ministro] Nunca foi ao teatro, não gosta”), publicadas pela Folha na semana passada.
Ao longo de 2005, Gil reclamou bastante de contingenciamento. O governo cortou 57% do orçamento do MinC, que era de R$ 480 milhões. A promessa é de que o cenário mudará em 2006.
Na última quinta, em São Paulo, o secretário estadual da Cultura, João Batista de Andrade, recebeu em audiência pública um conselho formado por 25 entidades de distintas áreas artísticas.
A luta é pela incorporação das emendas que criam de fato um Fundo Estadual de Cultura, com dotação orçamentária fixada em lei, gerido por uma conselho e que opere por meio de editais.
Andrade propõe a criação do Programa de Ação Cultural (PAC), que estabeleceria um limite de renúncia fiscal para incentivo à cultura de até 0,2% do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) e recolocaria em vigor um fundo de 1968, sem dotação orçamentária fixa, com recursos advindos da Loteria Cultural (que seria reativada).
A maioria das entidades apoiou a proposta, cuja data de votação pelo Legislativo não foi definida.
Na semana passada, em Porto Alegre, aconteceu o seminário “Teatro de Grupo -Reinventando a Utopia”, organizado pela Escola de Teatro Popular da Terreira da Tribo de Atuadores Ói Nóis Aqui Traveiz. Foi centrado nos processos criativos e na formação de ator/atuador, com presenças de diretores como Amir Haddad (grupo Tá na Rua, RJ), Ilo Krugli (grupo Ventoforte, SP) e Luiz Carlos Vasconcelos (Piolim, PB).
No dia 25/11, um ato público do movimento Arte contra a Barbárie, na Assembléia paulista, pediu a criação de um Fundo Nacional de Cultura. Um “fomento nacional” inspirado na Lei de Fomento da cidade de São Paulo, que destina cerca de R$ 9 milhões a grupos escolhidos por comissão.
Jornalista e crítico fundador do site Teatrojornal – Leituras de Cena, que edita desde 2010. Escreveu em publicações como Folha de S.Paulo, Valor Econômico, Bravo! e O Diário, de Mogi das Cruzes, na Grande São Paulo. Autor de livros ou capítulos afeitos ao campo, além de colaborador em curadorias ou consultorias para mostras, festivais ou enciclopédias. Cursa doutorado em artes cênicas pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, onde fez mestrado na mesma área.