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Folha de S.Paulo

Tapa encena misoginia em Strindberg

2.9.2006  |  por Valmir Santos

São Paulo, sábado, 02 de setembro de 2006

TEATRO

Comemorando 27 anos, grupo monta “Camaradagem”, sobre embate nas relações homem-mulher

VALMIR SANTOS 
Da Reportagem Local 

Protagonista de três casamentos malsucedidos, o sueco Johan August Strindberg (1849-1912) tingiu boa parte de seus contos e peças com a misoginia, aversão às mulheres. Vide “Senhorita Júlia”, em que uma aristocrata apaixona-se por um criado e termina se suicidando. Ou “Camaradas”, em que uma mulher assume papel machista -montagem inédita no Brasil que o grupo Tapa apresenta a partir de hoje no Viga Espaço Cênico. 

Na tradução de Rafel Rabelo, optou-se por “Camaradagem”, já que o título original é de cunho mais ideológico em português. É camaradagem no sentido da relação aberta a que se propõe o jovem casal Axel (interpretado por Tony Giusti) e Bertha (Patricia Pichamone). 

Eles são pintores. Metida em terno e gravata, Bertha se passa por amigo de Axel, sob consentimento deste, como forma de conseguir espaço no mercado de trabalho. A “encenação” estremece quando ambos disputam vaga num salão de pintura. A quem caberá mais poder? Em certa medida, Bertha é a antípoda de Nora, aquela que bate as portas e vai-se embora do casamento em “Casa de Bonecas”, do norueguês Henrik Ibsen (1828-1906), com quem Strindberg rivalizava. 

Segundo o diretor Eduardo Tolentino de Araújo, 51, “Camaradagem” é politicamente incorreta em vários sentidos. “Mostra como a sociedade suaviza algumas questões, não bota o dedo em feridas, não dá nome aos bois. Esse embate entre masculino e feminino vem desde as cavernas”, afirma. Paralelamente à boemia dos intelectuais e às noitadas de absinto, Strindberg amplia os estados interiores a outras relações decadentes, como a do militar com sua “Amélia”. São 12 atores no tablado do Viga, onde a platéia fica mais próxima da cena. Espaço propício ao “teatro íntimo” que Strindberg defendeu até em manifesto. 

Nascido no Rio há 27 anos, o Tapa acaba de completar duas décadas de permanência em São Paulo, onde constrói elogiado repertório. Ergue “Camaradagem” com recursos do Programa de Fomento (município) e Prêmio Estímulo (Estado).



Camaradagem
Quando:
estréia hoje, às 21h; de qui. a sáb., às 21h; e dom., às 19h. Até 29/10 
Onde: Viga Espaço Cênico (r. Capote Valente, 1.323, tel. 3801-1843) 
Quanto: de R$ 20 a R$ 30 

Jornalista e crítico fundador do site Teatrojornal – Leituras de Cena, que edita desde 2010. Escreveu em publicações como Folha de S.Paulo, Valor Econômico, Bravo! e O Diário, de Mogi das Cruzes, na Grande São Paulo. Autor de livros ou capítulos afeitos ao campo, além de colaborador em curadorias ou consultorias para mostras, festivais ou enciclopédias. Cursa doutorado em artes cênicas pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, onde fez mestrado na mesma área.

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