Menu

Folha de S.Paulo

Polonês discute corpo e biopolítica

28.10.2006  |  por Valmir Santos

São Paulo, sábado, 28 de outubro de 2006

TEATRO 

VALMIR SANTOS 
Da Reportagem Local 

Mudanças na percepção do corpo ao longo da história, contextos político e social, e sua emersão nas artes cênicas compõem a base da conferência que o pesquisador polonês Michal Kobialka, professor da universidade de Minnesota (EUA), realiza hoje em São Paulo. 

Na terceira visita ao Brasil, Kobialka fala sobre “Delirium da Carne: Arte e Biopolítica no Espaço do Agora”. O encontro gratuito acontece hoje no teatro Fábrica São Paulo. 

“Como [o pensador francês Michel] Foucault [1926-1984] exprime em “História da Sexualidade”, a modernidade biológica é o local onde a vida natural começa a ser incluída nos mecanismos e cálculos do poder do Estado; assim, a política gira em torno de biopolíticas. O Estado territorial transforma-se em Estado da população onde a saúde da nação e a vida biológica são vistas como um problema de poder soberano”, escreve Kobialka, 49, em entrevista por e-mail. 

Como exemplo de ponto de partida, pode-se traçar uma linha de tempo que vá do séc. 17, quando alguns paradigmas cartesianos começam a cair, até este séc. 21, em que o domínio do medo aumenta pós-2001. 

“Na cultura Ocidental, os deslocamentos e transformações na percepção do corpo estão conectados ao arranjo e rearranjo dos elementos que constituem o conhecimento sobre ele. Trata-se de uma atenção ao corpo que é construído racional e discursivamente de modo que possa ser incluído nos mecanismos e nos cálculos do poder do Estado ou da Igreja”, afirma Kobialka. 

“O corpo é, primeiro e fundamentalmente, um objeto histórico e político, que se torna visível no espaço da representação [dança, teatro] definido por aquilo que pode ser compreendido sobre ele, por quem o está olhando ou como e onde ele pode ser visto.” 
O professor destaca algumas etapas importantes no processo histórico, como a cultura da dissecação anatômica na Renascença (séculos 14 a 16), que marca um deslocamento logocêntrico para investigações corporais. Passa pela aporia (dúvida racional) no campo de concentração de Auschwitz (Polônia), transformado, em pleno séc. 20, em local que rasgou abertamente o pensamento Iluminista (séc. 18). 

Há ainda “as deliberações pós-modernas no corpo -gênero, etnicidade, raça, globalização, o virtual etc.-, que nos fazem pensar sobre “a sociedade do espetáculo” e de seu simulacro sobredeterminado por estruturas sociais, econômicas, intenções progressivas, identidades políticas, psicanálise, feminismo etc.” O encontro com Kobialka é uma realização do Núcleo 1 da Cia. de Teatro Fábrica São Paulo, sob curadoria de Márcia de Barros. O projeto é apoiado pelo Programa Municipal de Fomento ao Teatro para a Cidade de São Paulo.



Delirium da carne:  Arte e Biopolítica no espaço do agora 
Onde:
Teatro Fábrica São Paulo (r. da Consolação, 1.623, tel. 3255-5922) 
Quando: hoje, às 10h 
Quanto: entrada franca 

Jornalista e crítico fundador do site Teatrojornal – Leituras de Cena, que edita desde 2010. Escreveu em publicações como Folha de S.Paulo, Valor Econômico, Bravo! e O Diário, de Mogi das Cruzes, na Grande São Paulo. Autor de livros ou capítulos afeitos ao campo, além de colaborador em curadorias ou consultorias para mostras, festivais ou enciclopédias. Cursa doutorado em artes cênicas pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, onde fez mestrado na mesma área.

Relacionados