Folha de S.Paulo
11.11.2006 | por Valmir Santos
São Paulo, sábado, 11 de novembro de 2006
TEATRO
“Todos os Homens Notáveis” está em cartaz no teatro João Caetano, em SP
VALMIR SANTOS
Da Reportagem Local
Os sentidos mais elevados da vida que Peter Brook busca retratar no filme “Encontros com Homens Notáveis” (1979), baseado na trajetória do místico greco-armênio George Gurdjieff, são opostos às tentações mais rasteiras do homem contemporâneo eleitas pelo grupo Teatro do Incêndio em “Todos os Homens Notáveis”.
A peça, escrita pelo também diretor Marcelo Marcus Fonseca, 35, estreou ontem no teatro João Caetano e trata do binômio mídia e poder. No enredo, o dono de uma emissora de TV é eleito governador graças à articulação feita com um amigo, que também é dono de jornal, e com um marqueteiro.
Em paralelo, um jornal concorrente põe um jornalista recém-formado para investigar a vida do governador. Desdobram-se daí as situações tragicômicas que envolvem os seres por trás das máscaras do poder.
“A peça transcende as falcatruas tramadas entre a mídia e o poder e expõe o humano, o governador que é apaixonado por uma garota de programa, por exemplo”, diz Fonseca.
O diretor afirma ter cuidado em desviar de maniqueísmos políticos. Quer proporcionar reflexão, mas que o público trilhe seus próprios caminhos. “A tônica da peça é a visão do publicitário que, diante de tudo, tem a clareza de que o mundo é um mercado”, diz Fonseca.
“Todos os Homens Notáveis” apóia-se numa teatralidade épica, com brechas para elementos do realismo e do fantástico. A encenação tenta revelar os pontos de vista do povo, dos governantes e da mídia.
O humor e as contradições desse tripé são espelhados no jogo dos atores com os personagens, na manipulação das palavras e na distorção física (como a do caráter). Parte da trilha (direção musical de João Urbilio) é executada ao vivo pelos atores (piano, baixo, percussão etc). Entre os 13 intérpretes, estão Camila Turim, Gustavo Engracia e Liria Varne.
Jornalista e crítico fundador do site Teatrojornal – Leituras de Cena, que edita desde 2010. Escreveu em publicações como Folha de S.Paulo, Valor Econômico, Bravo! e O Diário, de Mogi das Cruzes, na Grande São Paulo. Autor de livros ou capítulos afeitos ao campo, além de colaborador em curadorias ou consultorias para mostras, festivais ou enciclopédias. Cursa doutorado em artes cênicas pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, onde fez mestrado na mesma área.