Folha de S.Paulo
25.5.2007 | por Valmir Santos
São Paulo, sexta-feira, 25 de maio de 2007
TEATRO
Disputa por poder guia peça do inglês Jez Butterworth com o Núcleo Experimental do Teatro Augusta
VALMIR SANTOS
Da Reportagem Local
A escatologia não está no primeiro plano de “Mojo” (1995), texto do inglês Jez Butterworth, 38, que ganha montagem inédita no Brasil pelo Núcleo Experimental do Teatro Augusta, em São Paulo. Mas o diretor Zé Henrique de Paula, 36, recorre aos fluidos corporais para ilustrar o modo violento como seis rapazes disputam feito cães a demarcação de território. “Não é uma peça sobre sêmen, mas sobre urina”, sintetiza ele, a despeito da concentração de testosterona. O que está em xeque é a pulsão aniquiladora do grupo que freqüenta um bar londrino no final dos anos 1950. Entre eles, há um cantor de rock que faz sucesso no Clube Atlântico. A popularidade dos shows atrai um empresário.
O sujeito alicia o astro e manda matar o proprietário. O crime assusta os dois caras que trabalham na casa. O filho do assassinado também entra na ciranda. Tanto o suspense policial como o ambiente underground, embalado por “bolinhas” e músicas de juke-box, surgem de forma lateral no enredo. O eixo é a disputa pelo poder nesse estranho círculo de amizades, a tensão provocada pelas ameaças subliminares ou viscerais, com faca ou revólver. “A maneira como esses homens lutam é mais importante do que o objeto da disputa, o negócio do bar, dos shows”, diz o diretor. Ele deixa claro o desejo de concentrar a encenação nos atores. O espaço intimista da sala experimental, no subsolo do teatro, exige ainda mais do sexteto Fabrício Pietro, Alexandre Cruz, Thiago Carreira, Thiago Ledier, Marcelo Góes e André Montilha. Metade do elenco vem do espetáculo anterior (que firmou o núcleo), “R&J” (2006), releitura do americano Joe Calarco para “Romeu e Julieta”. “A gente encara “Mojo” como o reverso de “R&J’: esta trata da construção da identidade masculina, com adolescentes descobrindo o amor; aquela, agora, lida com esses rapazes adultos que associam virilidade a poder”, diz o diretor. Em tempo: a expressão africana “mojo” designa amuleto com poderes mágicos.
Jornalista e crítico fundador do site Teatrojornal – Leituras de Cena, que edita desde 2010. Escreveu em publicações como Folha de S.Paulo, Valor Econômico, Bravo! e O Diário, de Mogi das Cruzes, na Grande São Paulo. Autor de livros ou capítulos afeitos ao campo, além de colaborador em curadorias ou consultorias para mostras, festivais ou enciclopédias. Cursa doutorado em artes cênicas pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, onde fez mestrado na mesma área.