Folha de S.Paulo
1.7.2007 | por Valmir Santos
São Paulo, domingo, 01 de julho de 2007
TEATRO
Cia. Anjos Pornográficos estréia adaptação de poema
VALMIR SANTOS
Da Reportagem Local
“Sem o relógio, tudo é mais afastado e misterioso”, diz uma das três veladoras da donzela morta em “O Marinheiro” (1913), poema dramático de Fernando Pessoa (1888-1935) -ou “drama estático”, como preferia-, em rara incursão pelo teatro.
A peça tem seu título multiplicado como os heterônimos do escritor português em “Os Marinheiros”, montagem da Cia. Anjos Pornográficos que entra em cartaz hoje no Instituto Cultural Capobianco. Dirigido por Miguel Hernandez, 38, o espetáculo faz parte da Mostra Estadual de Teatro – Prêmio Desabrochar, com curadoria de Ricardo Muniz Fernandes.
Na concepção dramatúrgica, também por Hernandez, Pessoa é convertido no morto (ou “quase morto”) velado por três mulheres. O marinheiro em questão é personagem da história narrada por uma das moças naquela noite. O enredo dela, de forte carga simbólica, fala de um homem que naufraga numa ilha e se safa, anos a fio, por meio da imaginação, a ponto de confundi-la com a realidade.
“Situamos a ação dentro da cabeça de Fernando Pessoa em seu último dia de vida, quando internado com problemas hepáticos. Em meio a distúrbios e delírios que sofreu, ele relembra as veladoras do texto que criou na juventude”, diz Hernandez.
O diretor co-fundou a companhia em 2000, na cidade portuguesa do Porto, onde três anos depois dirigiu sua primeira versão da obra. O núcleo paulista é de 2005. No elenco, estão Danielle Farnezi, Natália Corrêa e Virginia Buckowski.
A mostra estadual segue até setembro, com mais duas montagens: “Ay, Carmela!”, de José Sanchis Sinisterra (4 a 26/8), e “Clarices”, com textos de Clarice Lispector (1º a 23/9).
Jornalista e crítico fundador do site Teatrojornal – Leituras de Cena, que edita desde 2010. Escreveu em publicações como Folha de S.Paulo, Valor Econômico, Bravo! e O Diário, de Mogi das Cruzes, na Grande São Paulo. Autor de livros ou capítulos afeitos ao campo, além de colaborador em curadorias ou consultorias para mostras, festivais ou enciclopédias. Cursa doutorado em artes cênicas pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, onde fez mestrado na mesma área.