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Folha de S.Paulo

Peça musicada adapta obra de Guimarães Rosa

1.9.2007  |  por Valmir Santos

São Paulo, sábado, 01 de setembro de 2007

TEATRO 
Versão carioca de “Augusto Matraga” chega a SP 

VALMIR SANTOS
Da Reportagem local 

A musicalidade das palavras de João Guimarães Rosa (1908-67) em “A Hora e a Vez de Augusto Matraga”, um dos contos de “Sagarana”, é sublinhada na montagem carioca que estréia hoje em São Paulo. 

Idealizador do projeto que estreou em março, no Rio, o diretor musical Alexandre Elias criou composições originais e convidou o encenador André Paes Leme para o espetáculo. 

Leme, 41, que também adapta o conto, é conhecido por criações voltadas à pesquisa do musical popular e valorização do gênero épico, como em “Alcassino e Nicoleta” (1994), paródia portuguesa do século 15. 

Essa conjunção, segundo ele, é das mais propícias em “Matraga”, obra de apelo dramático que também mobilizou Antunes Filho e o grupo Macunaíma há 21 anos, tendo Raul Cortez (1932-2006) como protagonista, no mesmo palco onde a nova montagem cumpre temporada. 

A queda e a ascensão espiritual de Nhô Augusto é cantada, contada e tocada por oito atores, entre eles o baiano Jackyson Costa, no papel-título. A travessia do conto -cerca de dez anos de saltos no tempo e no espaço- é iniciada com a separação de mulher e filha que deixam para trás um homem boêmio e violento. 

Matraga purga pecados em penitências e provações. Isola-se em trabalhos austeros, torna-se devoto a Cristo e antagoniza com um chefe de jagunços que lhe cruza o caminho, Joãozinho Bem-Bem (Fábio Lago). “O espetáculo desenvolve a temática universal e eterna da superação das maldades internas, o redescobrir de homens mais bondosos”, diz Leme. 

Para o diretor, é inevitável a associação de Matraga à figura de Cristo na busca pela purificação. “Matraga conhece o inferno, percebe o terror que será e tenta fugir das tentações.” 

Quanto à musicalidade, Leme diz querer evitar o padrão espetacular à la Broadway. “A música tem a função de contar a história, a favor da teatralidade da cena. Trechos do texto foram musicados, desenvolvidos em função da estrutura narrativa do conto e dos personagens.” 



A hora e a vez de Augusto Matraga 
Onde:
teatro Sesc Anchieta (r. Dr. Vila Nova, 245, tel. 3234-3000) 
Quando: estréia hoje, às 21h; sex. e sáb., às 21h, e dom., às 19h. Até 27/9 
Quanto: R$ 7,50 a R$ 20 

Jornalista e crítico fundador do site Teatrojornal – Leituras de Cena, que edita desde 2010. Escreveu em publicações como Folha de S.Paulo, Valor Econômico, Bravo! e O Diário, de Mogi das Cruzes, na Grande São Paulo. Autor de livros ou capítulos afeitos ao campo, além de colaborador em curadorias ou consultorias para mostras, festivais ou enciclopédias. Cursa doutorado em artes cênicas pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, onde fez mestrado na mesma área.

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