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Folha de S.Paulo

Saem memórias de pensadores do teatro moderno

3.12.2007  |  por Valmir Santos

São Paulo, segunda-feira, 03 de dezembro de 2007

TEATRO 

Livros narram as trajetórias do escritor e empreendedor cultural Alfredo Mesquita e da atriz Dulcina de Moraes
 

Biografia do criador da Escola de Arte Dramática em SP e coletânea de histórias da atriz expõem formas de “amor ao teatro”

VALMIR SANTOS
Da Reportagem Local 

Os centenários de nascimento do escritor e empreendedor cultural Alfredo Mesquita, neste ano, e da atriz Dulcina de Moraes, em 2008, trazem suas memórias à tona. Eles foram contemporâneos no “amor ao teatro”, que os conduziu a ações objetivas, mas suas trajetórias não se tocaram. 

Mesquita (1907-85) é mais conhecido pela criação da Escola de Arte Dramática em São Paulo. Dulcina (1908-96) legou a Fundação Brasileira de Teatro, em Brasília. Eles convergiram no ideal de formação e reconhecimento profissional de atores nos anos 1940, quando a cultura do teatro firmava seus primeiros passos em busca de teorias e práticas mais modernas. 

É o que mostram os livros “Alfredo Mesquita – Um Grã-Fino na Contramão”, da jornalista e dramaturga Marta Góes, primeira biografia sobre o escritor, e “Dulcina de Moraes -Memórias de um Teatro Brasileiro”, da atriz e pesquisadora Michelle Bastos.

Inaugurada em 1948, a EAD passou 20 anos sob o comando de Mesquita. Em 1968, a crise financeira levou a escola a ser incorporada pela USP, instituição que catalisa o trabalho de Góes. Mas a autora contextualiza o percurso intelectual que ajuda a entender como a vocação para educador ganhou consistência. 

O filho do dono do jornal “O Estado de S.Paulo” protagonizou feitos como a abertura de uma livraria em sociedade, a Jaraguá, no centro paulistano (1940-54), freqüentada por Oswald e Mário de Andrade, além de jovens como Hilda Hilst. Coube a Mesquita lançar a “Clima” (1941-44), “uma revista de gente nova e desconhecida”, como a publicação se auto-declarava. Gente como Décio de Almeida Prado (teatro), Paulo Emílio Salles Gomes (cinema), Antonio Candido (literatura), Lourival Gomes Machado (artes plásticas), Antonio Lefèvre (música) e outros. 

Em 1944, Mesquita criou o Grupo de Teatro Experimental (GTE), integrado por artistas amadores. Escreveu e dirigiu peças que atraíram o industrial Franco Zampari para aquela arte, inspirando-o a inaugurar o Teatro Brasileiro de Comédia (TBC) em 1948, na Bela Vista. 

Em abril daquele ano, a EAD começou a funcionar no porão do externato Elvira Brandão, nos Jardins. A cidade contava apenas três teatros: o Municipal, o Boa Vista (atual Sérgio Cardoso) e o extinto Santana. No semestre seguinte, a EAD ocupou o 2º andar do TBC a convite de Zampari. A sede mudou depois para um casarão em Higienópolis (1952-60) e o prédio da atual Pinacoteca do Estado, antes de ir de vez para a Cidade Universitária, em 1970. 

“Alfredo acreditava que os fundamentos da formação do ator eram cultura, disciplina e ética”, escreve Góes. Entre os mestres, estavam Cacilda Becker, o crítico alemão Anatol Rosenfeld, o filósofo tcheco Vilém Flusser e o cenógrafo italiano Gianni Ratto, além da então secretária e bibliotecária da escola, Maria Thereza Vargas. 

A EAD formou turmas de 1950 a 2007. São centenas de artistas, da geração de Myriam Muniz à de Marat Descartes. A autora não pisa o terreno afetivo de Mesquita, reservado no trato pessoal. “A intimidade o assustava mais do que o desrespeito ou a agressão.”



Alfredo Mesquita – Um grão- fino na contramão 
Autora : Marta Góes 
Editoras : Albatroz, Loqüi e Terceiro Nome (304 págs.) 
Quanto : R$ 68 
Lançamento : 5/12, às 19h, no Teatro Municipal (pça. Ramos de Azevedo, s/ nº, 3222-8698)
 

Jornalista e crítico fundador do site Teatrojornal – Leituras de Cena, que edita desde 2010. Escreveu em publicações como Folha de S.Paulo, Valor Econômico, Bravo! e O Diário, de Mogi das Cruzes, na Grande São Paulo. Autor de livros ou capítulos afeitos ao campo, além de colaborador em curadorias ou consultorias para mostras, festivais ou enciclopédias. Cursa doutorado em artes cênicas pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, onde fez mestrado na mesma área.

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