Folha de S.Paulo
4.2.2008 | por Valmir Santos
São Paulo, segunda-feira, 04 de fevereiro de 2008
TEATRO
Entre as nove mostras importantes de 2008, há peças de coletivos de países como Equador, Colômbia, Cuba e Peru
Em sua 17ª edição, evento curitibano tem nova coordenação e traz também apresentações de música, cinema e artes plásticas
VALMIR SANTOS
Da Reportagem Local
Mais receptividade a espetáculos latino-americanos: eis uma tendência dos festivais de teatro pelo Brasil em 2008, sejam nacionais ou internacionais. Há notícias ainda de uma nova montagem do inglês Peter Brook, de espetáculo nipônico por ocasião do centenário de imigração japonesa e de mudanças em coordenações.
Historicamente acolhidos no Festival Internacional de Londrina (Filo), que chega à 20ª edição e aos 40 anos (somadas as fases de mostras universitária e nacional), e no Porto Alegre em Cena, na 15ª edição, países da América Latina são destaques também em territórios mineiro e paulista.
A Mostra Latino-Americana de Teatro de Grupo, iniciativa da Cooperativa Paulista de Teatro, vai para a terceira edição em maio e confirma a vinda do colombiano Teatro de La Candelaria, do peruano Yuyachkani e do equatoriano Malayerba (leia destaques à dir.).
Os mesmos coletivos retornam ao país, entre junho e julho, para se juntar ao boliviano Teatro de los Andes e ao cubano Teatro de la Luna. Segundo Carlos Rocha, coordenador do 9º Festival Internacional de Teatro Palco & Rua de Belo Horizonte (FIT-BH), é uma mostra latina integrada à programação, que está sendo definida.
Uma das expressões do tango argentino contemporâneo, a cantora Susana Rinaldi se apresentará pela primeira vez no Brasil em 20/5. O show inspira o lançamento da programação do Porto Alegre em Cena.
O festival gaúcho se vale da privilegiada localização geográfica para estabelecer interlocução contínua com produções do Uruguai e da Argentina. As atrações vizinhas ainda não foram fechadas, mas o coordenador gaúcho, Luciano Alabarse, já adianta que em setembro haverá montagens de dois grandes encenadores europeus: o inglês Peter Brook e o lituano Eimuntas Nekrosius.
Radicado na França, à frente do Théâtre des Bouffes du Nord e do Centro Internacional de Criação Teatral, Brook assina “O Grande Inquisidor” (2006), adaptação de Marie-Hélène Estienne para um dos capítulos de “Os Irmãos Karamazov”, de Dostoiévski.
Acompanhado por Joachim Zuber, o veterano Bruce Myers, que atua com Brook desde a década de 70, divisa a linha entre mártires e monstros para refletir sobre liberdade e religião na história da humanidade.
Nekrosius e seu grupo, Meno Fortas (fortaleza da arte, em lituano), trarão uma versão de “Fausto” (99), de Goethe.
De Londrina, o diretor do festival, Luiz Bertipaglia, diz que a abertura, em junho, será feita pelo espetáculo “O Oratório de Aurélia”, defendido pela atriz e acrobata francesa Aurélia Thierrée, ao lado de outros convidados. Ela é dirigida por sua mãe, Victoria Thierrée Chaplin (do Cirque Invisible), filha do comediante inglês Charles Chaplin.
Curitiba
O Festival de Teatro de Curitiba troca de comando a partir desta 17ª edição, em março. Um dos seus idealizadores em 1992, Leandro Knopfholz assume a direção-geral. Ele e a empresa realizadora, Calvin Entretenimento, trabalham com a premissa de que a principal “vitrine” das produções brasileiras deve comunicar-se mais com outras áreas, como show, cinema e artes plásticas. A palavra “teatro”, por exemplo, será subtraída do nome fantasia do evento em favor do guarda-chuva Festival de Curitiba.
Entre as 21 peças a serem escaladas para a mostra oficial, estão as estréias de “Deserto”, criação em processo da Cia. Brasileira de Teatro (PR), “Volúpia”, com a Cia. Carona (SC), e ainda um destaque estrangeiro, a dança-teatro do The Condors, grupo japonês dirigido por Ryohei Kondo. Quanto à mostra paralela do festival, Fringe, a organização estima apresentar 250 espetáculos.
Os nove eventos relacionados nesta página evidenciam a ampliação do circuito e expõem o desafio de se reinventar o formato para não esgotá-lo.
Jornalista e crítico fundador do site Teatrojornal – Leituras de Cena, que edita desde 2010. Escreveu em publicações como Folha de S.Paulo, Valor Econômico, Bravo! e O Diário, de Mogi das Cruzes, na Grande São Paulo. Autor de livros ou capítulos afeitos ao campo, além de colaborador em curadorias ou consultorias para mostras, festivais ou enciclopédias. Cursa doutorado em artes cênicas pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, onde fez mestrado na mesma área.