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Folha de S.Paulo

Peça emenda futebol à história de São Paulo

18.2.2008  |  por Valmir Santos

São Paulo, segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

TEATRO

Trajetórias de times e da cidade se misturam na comédia musical “Nos Campos de Piratininga”, que estréia hoje
 

Graça Berman e Renata Pallottini equilibram documento e ficção na comédia musical que é dirigida por Imara Reis

VALMIR SANTOS
Da Reportagem Local 

Corintianos, palmeirenses, são-paulinos e demais torcedores e moradores de São Paulo vão conferir um pouco da história dos times e da cidade na autodefinida comédia musical “Nas Terras de Piratininga”, da Cia. Letras em Cena, que estréia hoje no teatro Maria Della Costa, na Bela Vista. 

“Abrem-se as cortinas e começa o espetáculo, torcida brasileira!”, ouve-se a voz em off do locutor Fiori Gigliotti (1928-2006), dando partida a quase duas horas e meia de uma viagem por episódios e personagens que firmaram o futebol, da várzea aos estádios, do final do século 19 ao ano 2007. 

A dramaturgia co-assinada por Graça Berman e Renata Pallottini apoia-se em passagens documentais, como a do vapor com o qual o inglês Charles Miller, com uma bola de futebol, cruzou os mares para ancorar no porto de Santos, em 1894. 

Em paralelo, vai-se desenhando a geografia afetiva da São Paulo ao longo dos anos. Imagens num telão, por exemplo, descontraem o que é a região atual do parque Dom Pedro 2º até alcançar o que eram as margens do rio Tamanduateí com lavadeiras batendo roupa nas pedras e cantarolando. 

São incorporados trechos de crônicas, romances ou poemas de autores como Antônio de Alcântara Machado, Mário de Andrade, Juó Bananère e Oswald de Andrade, todos convertidos em personagens, ao lado do conde Francisco Matarazzo e do industrial Jorge Street. “O que conduz a narrativa é essa paixão dos paulistanos, ou daqueles que para cá vieram e envolveram-se amorosamente com o futebol e com a cidade”, diz a diretora Imara Reis. 

Quando cita o musical, diz ela, não se deseja carregar o tom espetacular. Ao contrário, a opção é por um palco nu, preenchido por atores, objetos e adereços de acordo com cada época. Algumas cenas fazem associação ao carnaval, como na alegoria a “Ô Abre Alas”, de Chiquinha Gonzaga. “O folião tem tudo a ver com o torcedor”, conta a diretora. 

Cada sessão deverá ser seguida de bate-papo entre jornalistas e boleiros. Hoje, estão escalados Roberto Avallone, Mário Travaglini, Muricy Ramalho, Pepe, Valdir de Moraes. Em campo, ou melhor, no palco, 13 atores defendem os dois tempos. O futebol, aliás, já havia levado a cia. a criar “Nossa Vida É uma Bola” (2002).



Peça: Nos campos de Piratininga
Quando:
estréia hoje, às 20h; seg. e ter., às 20h; até 29/4 
Onde: teatro Maria Della Costa (r. Paim, 72, tel. 3256-9115) 
Quanto: R$ 7 (para quem for vestido com a camiseta de um time) a R$ 20
 

Jornalista e crítico fundador do site Teatrojornal – Leituras de Cena, que edita desde 2010. Escreveu em publicações como Folha de S.Paulo, Valor Econômico, Bravo! e O Diário, de Mogi das Cruzes, na Grande São Paulo. Autor de livros ou capítulos afeitos ao campo, além de colaborador em curadorias ou consultorias para mostras, festivais ou enciclopédias. Cursa doutorado em artes cênicas pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, onde fez mestrado na mesma área.

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